Folha de S. Paulo


Del Nero e Teixeira terão de depor na CPI; aliados querem cancelar sessão

Os Senadores da CPI do Futebol aprovaram na tarde desta quarta-feira (6) a convocação de Marco Polo Del Nero, presidente licenciado da CBF. Ricardo Teixeira, que comandou a entidade por mais de duas décadas, também teve a sua convocação aprovada pelos senadores.

As datas dos depoimentos ainda não foram fechadas pelos parlamentares. Del Nero está afastado do cargo desde dezembro, quando o FBI o acusou de ser beneficiário de um esquema de recebimento de propina na venda de direitos de torneios no país e no exterior. Ele também é investigado pelo Comitê de Ética da Fifa.

No depoimento, os senadores vão questionar detalhes de negócios feitos pelo cartola com o empresário Wagner Abrahão, que também terá que depor na CPI, além de uma suposta conta do dirigente no exterior.

Na sessão desta quarta, os senadores também aprovaram a convocação do depoimento de Marco Polo del Nero Filho e de Gustavo Feijó, vice-presidente da CBF.

Del Nero Filho terá que depor para esclarecer uma série de negócios que realizou juntamente com o seu pai.

Em abril de 2015, a Folha revelou que o presidente licenciado da CBF e seu filho compraram de Abrahão por R$ 5,2 milhões uma cobertura dúplex de mais de 300 metros quadrados na Barra da Tijuca, zona nobre do Rio.

O apartamento pertencia a uma empresa dos filhos de Abrahão.

No acordo, Del Nero e seu filho repassaram ao empresário por cerca de R$ 410 mil e um saldo devedor (não revelado) uma outra cobertura no condomínio. O imóvel valeria no mínimo cerca de R$ 4 milhões, de acordo com corretores cariocas especializados em apartamentos de luxo.

A negociação é considera suspeita pelo presidente da CPI, senador Romário (PSB-RJ).

BANCADA DA BOLA

A "bancada da bola" decidiu reagir no Senado. Três horas depois de a CPI do Futebol aprovar a convocação de Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira para depor, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) pediu ao presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) o cancelamento da sessão.

Nogueira alegou falta de quorum na votação da CPI. No momento, seis senadores tinham assinado o comparecimento na sessão, mas apenas três estavam na sala –Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Romário (PSB-RJ) e Zezé Perrela (PTB-MG).

"Gostaria de solicitar uma investigação para esclarecer o que ocorreu na CPI do Futebol. Hoje essa CPI sem a presença dos senadores que assinaram a lista de presença, votou a convocação de várias pessoas. Por isso, solicito o cancelamento desta votação", afirmou Nogueira, um dos principais aliados da CBF na comissão. Nogueira já recebeu ajuda financeira da entidade para a eleição. Em 2002, a confederação doou R$ 50 mil para a sua campanha a deputado federal.

Calheiros pediu "uma rápida investigação nos procedimento regimentais" e disse que decidirá nesta quinta (7) sobre o tema.

Um dos aliados políticos de Calheiros, Gustavo Feijó, que é vice da CBF, teve nesta quarta aprovado a sua convocação para depor na CPI do Futebol. Em um troca de mensagem obtida pela comissão, Feijó pedia cerca de R$ 200 mil para Del Nero. O cartola respondeu que enviaria. A CBF e nem Del Nero aparecerem como doadores da sua campanha a prefeito de Boca da Mata, interior de Alagoas.

O presidente do Senado também já recebeu doação de campanha da CBF. Em 2002, ele ganhou 100 mil da entidade, então presidida por Ricardo Teixeira.

Presidente da CPI, o senador Romário disse que os procedimentos foram corretos. "A secretária geral da mesa terá a oportunidade de conferir e atestar a autenticidade das assinaturas. A votação foi simbólica, conforme autoriza o regimento interno do Senado", disse o ex-jogador da seleção brasileira.

CAIXA DOIS

Suspeito de usar dinheiro de caixa dois na sua campanha a prefeito de Boca da Mata, interior de Alagoas, Gustavo Feijó vai responder os questionamento dos senadores sobre uma suposta ajuda financeira da CBF em 2012.

Numa mensagem trocada entre os dois cartolas, obtida pelos senadores, Feijó cobra Del Nero por dinheiro para a sua campanha. Na resposta, o presidente licenciado da CBF diz que os pagamentos serão feitos.

No documento, Feijó diz que o orçamento de sua campanha seria de R$ 2.013.900,00. Mas ele declarou à Justiça Eleitoral ter arrecadado uma receita de R$ 130 mil. A CBF não aparece como doadora da campanha, segundo o TSE. O dirigente foi eleito prefeito de Boca da Mata.

Os requerimentos aprovados pela CPI convocando os cartolas e empresários foram pedidos pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede).


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