Folha de S. Paulo


Justiça alega falta de transparência e suspende análise de contas da CBF

A Justiça do Rio suspendeu a reunião para aprovação das contas do mandato de Marco Polo Del Nero na CBF, marcada para esta segunda-feira (7).

No final da tarde de domingo (6), o juiz Paulo Assed Estefan concedeu a liminar em favor do presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim Peixoto.

Na sexta, advogados do dirigente foram à CBF pedir o balanço financeiro da entidade, que seria discutido na assembleia desta segunda.

No seu despacho, o juiz informa que os funcionários da entidade não deram acesso aos comprovantes de receita e despesas da entidade.

"Desse modo, presente o fumus boni iuris [fumaça ou aparência do bom direito] e atento, ainda, ao princípio da transparência, defiro parcialmente a liminar pretendida e determino a suspensão de deliberação", escreveu o magistrado.

Peixoto foi representado na causa pelo advogado Gerson Arraes, do Escritório Costa Barros.

Divulgação/Federação Catarinense de Futebol
Delfim Peixoto, presidente da Federação Catarinense de Futebol
Delfim Peixoto, presidente da Federação Catarinense de Futebol

No final da manhã desta segunda, um oficial de Justiça notificou o presidente interino da CBF, Antonio Carlos Nunes, 77, sobre a decisão. A assembleia está marcada para o meio-dia e teve início logo em seguida.

A entidade deverá recorrer da decisão, mas os cartolas não devem votar as contas da entidade. A pauta prevê também a indicação dos integrantes do novo Conselho Consultivo e a apresentação do relatório financeiro da entidade.

Nesta segunda, presidentes de federações de todo o país participam da reunião.

Peixoto alega que recorreu ao judiciário para ter acesso de forma detalhada ao balanço da entidade, o primeiro da gestão Del Nero.

O cartola paulista é investigado pelo FBI e pelo Comitê de Ética da Fifa. Ele é acusado de participar de um esquema de recebimento de propina na venda de direitos de torneios no país e no exterior.

José Maria Marin, seu antecessor na CBF, cumpre prisão domiciliar nos EUA acusado pelo mesmo crime.Uma CPI no Senado também investiga Del Nero.

As contas de 2015 da entidade foram feitas pelos dois dirigentes. Marin comandou a entidade até abril, quando passou o cargo para Del Nero.

"Não posso aprovar as contas da CBF no escuro. Eles sempre apresentam os números de uma forma bem resumida. Desta vez, diante das investigações, não podemos agir mais assim", disse Peixoto.

"Desde sexta, estou pedindo o relatório de uma forma detalhada e não nos passam nada. Só me restou ir ao judiciário", acrescentou o dirigente catarinense de 75 anos.

Vice da CBF, Peixoto era o primeiro na linha sucessória até dezembro, quando Del Nero articulou um "golpe", como os opositores classificam a manobra, para afastar o catarinense do poder.

Numa eleição convocada às pressas, os aliados de Del Nero elegeram o presidente da Federação Paraense de Futebol, Antonio Carlos Nunes, 77, para entrar na vaga de vice deixada em aberto por Marin após a prisão no exterior.

Pelo estatuto da CBF, o vice mais velho assume em caso de renúncia. A CBF tem cinco vices. Além de Peixoto, Marcus Vicente e coronel Nunes, Fernando Sarney e Gustavo Feijó também são vices na confederação.

Del Nero está afastado do poder desde dezembro, quando o FBI o acusou de se beneficiar do esquema de recebimento de propina. Em janeiro, Nunes começou a comandar a CBF.

Peixoto é o presidente de federação mais crítico aos métodos de comando da atual diretoria.


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