Folha de S. Paulo


Antes de feito, tenista brasileiro fugiu de cirurgia e usou ioga e meditação

Luiz Pires/Fotojump/Flickr/RioOpen
Thiago Monteiro (BRA) vence Tsonga na estreia do Rio Open 2016. © Luiz Pires/Fotojump
O brasileiro Thiago Monteiro celebra vitória sobre o francês Tsonga na estreia do Aberto do Rio

O cearense Thiago Monteiro, 21, exemplifica como poucos a imprevisibilidade do tênis. Na semana passada, com uma vitória, ele roubou os holofotes no Aberto do Rio.

Não foi qualquer triunfo. Então número 338 no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), o brasileiro derrotou o francês Jo-Wilfried Tsonga, nono colocado, na estreia do torneio. Na atualização do ranking desta segunda-feira, o brasileiro subiu 60 colocações e agora é o 278 do mundo.

"Às vezes em uma semana você muda o seu calendário para o ano inteiro. Cobrança sempre vai ter, tenho que estar preparado", disse o tenista à Folha.

O próximo desafio será o Aberto do Brasil, na terça-feira (23), em São Paulo, quando enfrenta Nicolas Almagro, 53º do mundo e tricampeão do torneio. Ele foi convidado um dia após o feito no Rio.

O resultado contra o francês é surpreendente não só pela diferença no ranking, mas também pela recuperação de Monteiro nos últimos meses. Em junho de 2015, ele sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, quando jogava um torneio na Eslováquia.

Após exame de ressonância, a recomendação da maior parte dos médicos foi pela cirurgia. O fisioterapeuta Paulo Roberto Carvalho Santos, que o acompanha, era contra. Ele avaliava de que o tenista já estava se movimentando bem em quadra e a intervenção não era necessária.

Quando encontrou uma opinião médica que ia ao encontro da sua, Santos conseguiu convencer o atleta e seus treinadores a optarem por outras formas de recuperação. A cirurgia já tinha data para acontecer e foi desmarcada.

A recuperação do cearense foi rápida. Em setembro, já estava competindo.

Para o preparador físico Alex Matoso, o psicológico do jogador fez a diferença.

Para ambos, é consenso que, se o tenista tivesse passado por cirurgia, o feito contra Tsonga não teria sido possível, já que a recuperação seria mais lenta.

"Provavelmente ele estaria hoje no nível em que estava quando voltou no ano passado. A vitória não aconteceria", afirmou Matoso.

Marcello Zambrana - 21.fev.2016/DGW Comunicação
Thiago Monteiro durante treino para o Aberto do Brasil
Thiago Monteiro durante treino para o Aberto do Brasil

IOGA E MEDITAÇÃO

O fortalecimento mental faz parte da rotina de Monteiro. Há um ano e meio no centro de treinamento da Tennis Route, no Rio, o atleta pratica ioga e meditação.

"Ele tem feito diariamente, e a gente acha que está surtindo bastante efeito", disse o técnico Duda Matos.

Monteiro, que se define como uma pessoa "bem tranquila" fora das quadras, saiu de Fortaleza aos 14 anos para treinar na academia de Larri Passos, em Camboriú (SC).

"No começo você sente falta da família, depois vi que era isso que eu queria [jogar tênis]. Tive um amadurecimento mais rápido que o normal", afirmou o atleta.

O tenista conta que, no início da carreira, se espelhava no espanhol Rafael Nadal, canhoto assim como ele.

"Busco um jogo mais agressivo que o dele, mas gosto da parte mental, como ele se entrega na quadra".

O cearense chegou a ser número dois do ranking juvenil. Isso facilitou a transição para o profissional em termos de estrutura e patrocínios. Seu melhor ranking da ATP até agora foi 254º, em 2013.

Depois, vieram as lesões –além do joelho teve uma no cotovelo. Os bons resultados voltaram a aparecer no fim do ano passado e chegaram ao ápice no Rio, quando Monteiro caiu nas oitavas de final em jogo equilibrado contra o uruguaio Pablo Cuevas (45º).


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