Folha de S. Paulo


'Proposta chinesa balançou, mas não senti no coração', diz Lucas Lima

Lucas Lima não quer ser um jogador comum do futebol brasileiro. Ao chegar à seleção e virar referência, cumpriu parte de suas ambições. Trocar tudo isso por uma aventura na China o faria seguir, justamente, o ciclo mais comum dos últimos tempos.

O meia santista, porém, andou na contramão da safra de atletas que rumou para o mercado asiático após "propostas irrecusáveis" e não se deixou seduzir por um salário de quase R$ 5 milhões mensais, oferecido pelo Hebei China Fortune, com direito a projeto de carreira em que viraria nome de escolinha e receberia benefícios para os familiares. Ele quer ser rei no Brasil.

"A proposta chinesa balançou, mas não senti no coração. Quando você converte o valor do dólar para o real, aí dá um baque", conta o jogador, em entrevista à Folha. "Preciso ser o melhor jogador do Brasil e vou buscar trabalhando", completou.

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Folha - Já é possível confirmar que você fica no Santos?

Lucas Lima - Tem alguns dias ainda para a janela [de transferências] se fechar, mas estou bem focado em permanecer no Santos, bem tranquilo com relação a isso. Não penso em sair, não.

Você recebeu outras propostas além da chinesa?

A China foi a que mais me abalou, até pelo valor. Chegaram propostas da Europa também [Porto, de Portugal, e Torino, da Itália], mas pelos valores e pelos times, que eram de segundo escalão, não me interessaram.

Como foi a procura?

Eles falaram com o meu pai e com o Wagner [Ribeiro, empresário]. Eles procuram primeiro saber se o jogador tem interesse de ir para depois chegar ao clube e apresentar uma proposta. Dinheiro não é problema para eles.

Você chegou a balançar em algum momento?

A proposta chinesa balançou, mas não senti no coração. Quando você converte o valor do dólar para o real, aí dá um baque. Mas pensei bastante, orei. Se sentisse no coração, com certeza iria. Eram R$ 5 milhões [de salário], fora outras coisas. Tinham um projeto de carreira muito legal. Não fechei a porta para eles, um dia pode acontecer.

Como seria esse projeto?

Queriam explorar a minha imagem e dar algumas coisas para a minha família, fazer uma escolinha [de futebol] com o meu nome. Tem gente que brincou dizendo que colocariam o meu nome em uma cidade, mas eles tinham um projeto legal.

Se considera um pouco maluco por recusar tanto dinheiro?

O meu pai falou "é dinheiro, hein?", mas respondi que estava tranquilo. Ele e minha mãe me apoiaram do começo ao fim e sempre me ensinaram que dinheiro não é tudo, a felicidade conta muito, também, para o meu desempenho ser o melhor. Claro que os que viram o valor falaram que eu estava maluco, louco.

Mercado da bola

Os chineses prometeram voltar?

Procurei mandar uma carta para eles, agradecendo o carinho, explicando porque naquele momento escolhi não ir. Dá para ver o carinho que eles têm, é difícil recusar.

Chegou a conversar com o Dunga sobre a transferência?

Se tocasse tão forte no meu coração eu o consultaria, perguntaria o que ele acha. Diria que o meu desejo é ir, perguntaria se ainda seria convocado. Como não foi algo tão forte, não precisei fazer isso.

O Neymar não pediu para você ir para o Barcelona quando estiveram na seleção?

Tive a oportunidade de conversar com ele, que falou para eu não ir para a China, que tenho qualidade para jogar na Europa. Se ele quiser fazer o lobby não vou ficar triste.

Você parece ter afinidade com o pai do Neymar, como o conheceu?

Ano passado o conheci, comecei a conversar e tenho conversado nos últimos dias, vamos ver o que vai acontecer.

É verdade que ele já cuida da sua carreira?

Ele não cuida ainda, mas temos conversado. Pode vir a cuidar, não posso falar muito, mas é um cara que está de cabeça no futebol, gerenciamento de carreira, e pode somar para a minha. Fiquei feliz nas conversas que tive com ele.

Qual a sua meta hoje?

Minha meta é ser campeão paulista. Além disso, coloquei para mim que preciso ser o melhor jogador do Brasil, e vou buscar trabalhando. Sei do meu potencial, do meu valor. Para isso acontecer, preciso provar coletivamente.

O Palmeiras te procurou? Você trocaria o Santos por um rival?

Tiveram algumas conversas, mas não foi nada. Aprendi no futebol que nunca podemos dizer não. Hoje tenho contrato com o Santos, estou muito feliz, mas amanhã posso sair. O Santos pode não me querer e um rival sim.

O Santos te procurou para algum reajuste?

Esse ano ainda não teve nada. Espero que o presidente me dê essa ajudinha a mais, não seria uma má ideia.

E o Robinho? Vem?

Encontrei com ele quando fui cortar o cabelo, mas não sei falar. Espero que venha, acho que vai acabar vindo, sim, aqui é a casa dele, aqui ele é feliz. Jogar com um jogador qualificado é bom demais, ele é um craque, com muita lenha para queimar.

Frustra não estar na Libertadores?

Hoje não mais, mas logo depois da final [da Copa do Brasil] ficava martelando. Todos falavam que poderíamos ter chegado, isso seria muito importante para a minha carreira. Sabemos dos erros que cometemos, aprendemos com isso. No Brasileiro, a Libertadores não foi só perdida no final, mas pelos pontos não ganhos fora de casa. Fizemos um campanha de campeão no segundo turno, mas ficamos muitos jogos sem ganhar no primeiro.

O Santos é favorito no Paulista por não estar na Libertadores?

Para mim é o favorito porque jogo no Santos, conheço cada jogador. Claro que devemos respeitar as equipes grandes, os nossos rivais, que também são qualificados. Vamos mostrar o nosso favoritismo dentro de campo.

Como foram as férias?

Eu treinei muito pouco, queria descansar. Viajei bastante, deu para recuperar as energias, porque sabia que teria um bom tempo de pré-temporada. Não tenho problema de peso, acabo perdendo. Comi muita besteira, McDonald's, tudo o que não posso durante os campeonatos.


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