Folha de S. Paulo


Em meio a escândalo de corrupção, Fifa demite Valcke

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O Comitê de Emergência da Fifa anunciou nesta quarta-feira (13) a demissão de Jérôme Valcke, ex-secretário-geral da entidade.

Segundo o comunicado do comitê, a decisão tem efeito imediato e o dirigente já não possui qualquer ligação com a Fifa. O alemão Markus Kattner continuará como interino no cargo de secretário-geral da entidade.

Valcke já havia sido afastado do seu cargo em setembro de 2015, quando o empresário Benny Alon afirmou na Suíça que o dirigente ficava com parte do dinheiro de ingressos da Copa de 2014 revendido com ágio.

Na última quinta-feira (7), o Comitê de Ética da Fifa informou que abriu um processo formal contra o dirigente com base no relatório final produzido pela câmara de investigações.

Segundo o comunicado, "a câmara avaliou o relatório cuidadosamente e decidiu instituir o processo formal contra Valcke", que pode ser suspenso das atividades do futebol por nove anos, como recomendou o presidente da Câmara de Investigação do Comitê de Ética da Fifa, Cornel Borbély, na terça (5).

ENTENDA O CASO

Alon, que não apresentou provas de que Valcke realmente lucrou com entradas do Mundial, é sócio da JB Sports & Marketing, que tinha um contrato para fornecimento de ingressos da Copa com a Fifa.

Ele afirmou que fez um acordo com Valcke (que nega irregularidades) para vender os ingressos do Mundial com ágio de 200% no mercado negro. Em troca, segundo o empresário, a JB Sports e Valcke dividiriam os lucros meio a meio.

De acordo com o jornal "The Guardian", a JB Sports tinha envolvimento com a Fifa desde a Copa do Mundo de 1990, na Itália, e assinou um contrato em 2010 para vender 8.750 ingressos para o Mundial do Brasil, em 2014. O acordo garantia ingressos para os 12 melhores jogadores do torneio, assim como para os 12 piores.

Ainda segundo o jornal, um ingresso para as oitavas de final, com valor de face de US$ 230, era vendido por US$ 1,3 mil.

O ex-secretário-geral da Fifa já estava sob pressão por causa de uma carta que mostra que ele recebeu o pedido de repasse de US$ 10 milhões (R$ 39 milhões) que as autoridades americanas alegam ser propina de esquema de corrupção no futebol.

Segundo documento divulgado pelo canal sul-africano SABC, Valcke recebeu uma solicitação por escrito no dia 4 de março de 2008 do ex-presidente da Associação de Futebol Sul-Africana, Molef Oliphant, pedindo a transferência desse montante para Jack Warner, então presidente da Concacaf, a Confederação de Futebol das Américas do Norte e Central.

O pedido de suspensão por nove anos se baseia na quebra de várias regras do código de ética da Fifa, segundo Borbély, como conduta, lealdade, confidencialidade, conflitos de interesse e oferecimento e aceitação de presentes e outros benefícios. Também foi pedido o pagamento de uma multa de 100 mil francos suíços (R$ 397 mil).

PERFIL

Valcke, jornalista com passagens pelos departamentos de esportes de TVs francesas, assumiu cargo na Fifa pela primeira vez em 2003.

Era o diretor de marketing e TV quando a Fifa trocou como patrocinadora a Mastercard pela Visa, empresas de cartão crédito, numa negociação que gerou processo nos Estados Unidos e sua demissão.

Blatter demitiu Valcke em dezembro de 2006, depois de a Fifa ser multada em mais de US$ 60 milhões porque, segundo a Justiça americana, não respeitou cláusula do contrato com a Mastercard.

Para surpresa de todos que acompanharam o caso, sete meses depois, em julho de 2007, Valcke foi nomeado secretário-geral da entidade, cargo que dá autonomia para cuidar dos preparativos da Copa do Mundo.

Valcke participou da organização da Copa da África do Sul, em 2010 e, claro, da organização do Mundial do Brasil, no qual se envolveu em polêmicas ao criticar costumeiramente os atrasos nos preparativos.

Na mais conhecida, em março de 2012, ele afirmou que o Brasil precisava de um "chute no traseiro" para acelerar as obras. O governo federal recebeu mal, cobrou a Fifa, e a resposta foi que a frase, em francês, foi mal-interpretada e significava "acelerar o passo".


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