Folha de S. Paulo


Com palhaços em campo, Pacaembu recebe partida de futebol inusitada

Palhaçada foi elogio, e ninguém reclamou de marmelada no Pacaembu. Na tarde deste domingo (13), um dos principais estádios de São Paulo recebeu um jogo de futebol disputado por palhaços.

A partida, que fez parte da Jornada do Patrimônio promovida pela prefeitura, buscou resgatar eventos semelhantes realizados no local entre os anos 1950 e 1970.

Vestidos a caráter, os jogadores estavam mais preocupados em sacanear os colegas e divertir a plateia, formada principalmente por crianças, do que em marcar gols. A bola com 80 cm de diâmetro dificultou a tarefa no início.

Antes da partida, alguns faziam networking, outros reviam os amigos. Um dos poucos elementos boleiros do vestiário era o pandeiro, que dava ritmo ao pré-jogo, mas sem pagode.

Marcio Ballas, o João Grandão, 44, disse estar realizado por jogar no Pacaembu. "Palhaço sonha alto, mas nunca achei que seria possível".

Os sapatos furados não preocuparam a organização do evento. Já o salto alto da performer Nany People, que cantou o hino nacional, sim. Um funcionário teve que pedir para ela deixar o gramado na ponta dos pés.

Valia usar as mãos, fazer gols simultâneos e pedir atendimento médico, oferecido pelo grupo Doutores da Alegria. O juiz Margarida, famoso pelo uniforme cor de rosa e gestos exagerados, também fez sucesso com o público.

O jogo acabou com vitória do Laranjada sobre o Azulejo por 7 a 5. Ao som de "eu sou palhaço com muito orgulho, com muito amor", o time levantou o troféu Marmelada de Ouro.

Ao final da partida, o palhaço Alípio, que pela primeira pisava em um estádio de futebol, não lembrava se tinha marcado gols. "Fiz um sim, é que foi coletivo", explicou depois. Ele deu razão ao filho Raul, 10, que assistiu ao pai das arquibancadas e disse preferir vê-lo no circo.

A secretaria de Cultura do município tentava organizar o evento há seis anos, mas esbarrava na agenda concorrida do Pacaembu. Sem receber jogos de futebol com regularidade desde que Corinthians e Palmeiras inauguraram suas arenas, o estádio voltou a ver bola rolando.

Corintiana, a espectadora Maria Hortência, 62, não vê comparação entre os palhaços e o campeão brasileiro. "Só se for na alegria", disse.


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