Folha de S. Paulo


Familiares de santista morto falam em 'covardia miserável' e pedem justiça

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"Dê valor às pessoas enquanto elas estão por perto, pois saudade não será motivo suficiente para que elas voltem."

A frase no perfil do Whatsapp do taxista Gerson Ferreira de Lima, 34, parece uma espécie de comentário "a priori" do que viria acontecer com ele mesmo nesta quarta-feira (11), quando morreu após ter sido agredido por dois homens na noite de domingo (8), na zona leste de São Paulo.

Na padaria ao lado do Instituto Médico Legal, em Artur Alvim, na mesma região da capital paulista, a reportagem encontrou seu irmão, Wagner, seu pai, José, e seu tio, Cláudio, com um misto quente, uma garrafa de dois litros de Coca-Cola e com rostos marcados por abatimento e indignação.

Segundo seu irmão, Gerson, 50, que o havia transformado em taxista há dois anos, ele era querido por todos na Ponte Rasa, zona leste de São Paulo, onde nasceu e foi criado. Pacato, "só não era uma moça porque tinha duas filhas". Ele deixou a mulher, Juliana, e as filhas Gabi (Gabriela), 5, e Duda (Maria Eduarda), 7.

"O Gerson nunca se meteu em briga, em confusão. Tem muita bandidagem nesse mundo. Esses vermes assassinos mataram um pai de família, um trabalhador", diz Wagner.

Seu José, 70, disse ter visto o vídeo em que seu filho é golpeado apenas uma vez, do começo ao fim. "Vi uns pedaços outras vezes porque a imprensa não para de repetir isso", lamenta.

"Fiquei arrasado. Foi uma covardia miserável. Ele virou para ver o golpe que o amigo tinha levado e tomou a paulada na nuca. A gente quer punição, justiça", diz, em tom de voz baixo.

Segundo o hospital Santa Marcelina, onde ele ficou internado, ele teve traumatismo crânio-encefálico gravíssimo.

Reprodução
O torcedor do Santos Gerson Ferreira de Lima, 34, agredido a pauladas em um posto de combustível na esquina das avenidas São Miguel e Boturussu, na zona leste de São Paulo, morreu na noite desta quarta-feira (11)
O torcedor do Santos Gerson Ferreira de Lima, que morreu na noite desta quarta-feira (11)

Os parentes contam que Alisson Moreira, amigo que acompanhava Gerson e escapou com ferimentos leves, relata que os agressores portavam um taco de beisebol e um soco inglês.

Seu José viajou de Inajá, no Paraná, até São Paulo para ver o filho pela última vez.

"Esperei 70 minutos para vê-lo no hospital. Subi, vi, aguentei só sete minutos. Ele foi um bom menino, nunca me deu nenhum problema", lembra.

Em casa, Gerson era Taiô.

"Quando ele era pequenininho, ele empinava pipa comigo, e então os marmanjões cortavam a linha da pipa dele e ele dizia 'taiô, taiô'. Ele queria dizer 'talhou'. Até hoje, na Ponte Rasa, ele não é Gerson. É Taiô", explica Wagner, ou Cainho, como era tratado pelo irmão.

Segundo a delegada Regina Celia Issi, do 62º Distrito Policial, os indícios apontam que o ataque tenha sido motivado por rivalidade entre torcidas.

Uma testemunha relatou que uma das vítimas disse logo após o incidente que tudo teria acontecido "por causa de uma camisa". Alisson trajava uma do Santos.

Os familiares de Gerson afirmam com veemência que ele nunca fez parte de nenhuma torcida organizada.

"Ele nem ligava muito para futebol. Eles pararam na loja de conveniência para pegar alguma coisa para beliscar antes de irem para casa. Acho que ele nem sabia que tinha jogo naquele dia", diz o irmão, que completa que Alisson tem o mesmo perfil.

"Acho que aquela camisa dele do Santos é até velha, não deste ano", argumenta.

Procurada pela Folha, a polícia ainda não havia apresentado resultados de sua busca pelos suspeitos.

Seu José deixou a padaria sem tocar no misto quente pedido por Wagner.

"Não tenho fome, não", disse, antes de partir para o reconhecimento do corpo do filho.


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