Folha de S. Paulo


'É como uma feridinha', diz ginasta que sofreu com racismo na seleção

No início de maio, Ângelo Assumpção, 19, saltou tão alto quanto faz em suas apresentações na ginástica e surgiu para a torcida brasileira graças à sua primeira medalha em uma etapa de Copa do Mundo, em São Paulo.

Duas semanas depois, veio a queda. Não por culpa dele. Derrubado por três companheiros de seleção, o ginasta paulista se machucou. Foi exposto em um vídeo com injúrias raciais de Arthur Nory, Fellipe Arakawa e Henrique Flores em uma rede social.

"É como uma feridinha: aconteceu, pronto, sarou", afirma Assumpção à Folha, seis meses após o caso.

"Aconteceu o que aconteceu, fiquei um pouco chateado com o ocorrido e pelo que se tornou. Acho que era algo um pouco menor, e a mídia aumentou. Essas barreiras todos têm que vencer. Não tenho o que falar mais. Já superamos tudo isso", explica.

Na época, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) instaurou inquérito, afastou os três ginastas, o caso foi a julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e arquivado. Nory e Assumpção continuaram treinando juntos no Pinheiros, como nos últimos anos.

"Na época fiquei chateado, mas a gente continua saindo junto, vou para a casa dele, é coisa de irmão. É que foi pela rede social dele e acabou estourando mais nele", diz.

Por meio do aplicativo Snapchat, os ginastas –que estavam em período de treino com a seleção, em Portugal– fizeram piadas com ofensas racistas durante uma refeição ao lado de Assumpção, aparentemente constrangido. Após a divulgação feita pelo jornal "O Globo", eles gravaram outro vídeo, com pedido de desculpas.

Veja vídeo

NOVOS SALTOS

Assumpção volta a competir neste fim de semana, após dois meses cuidando de uma fissura no menisco do joelho direito. Lesionado, não foi ao Mundial da Escócia, mas viu Nory e o restante da seleção assegurarem a vaga da equipe completa na Rio-2016.

"Agora é só pensar em Olimpíada. Se o COB [Comitê Olímpico do Brasil] e a CBG focarem em medalhas, tenho que pensar em ser especialista, no solo e no salto, onde tenho chance de medalha", diz, já pensando em ser um dos cinco titulares. "Eu e Diego Hypolito vamos ter uma disputa direta por uma vaga".

Especialista nos mesmos aparelhos, Hypolito saiu em defesa de Assumpção na época, ao dizer que não se brincava daquela maneira com raça, sexualidade e religião. A declaração foi após os ginastas se defenderem dizendo que o caso não passou de uma "brincadeira infeliz".

"Todos têm uma lição para aprender com tudo isso: saber lidar melhor com as mídias sociais. O que faço aqui um monte de gente já está sabendo, explode muito rápido. Precisamos nos controlar mais. Nos policiar na hora de postar uma foto, fazer uma brincadeira, coisas de todos os tipos de gênero", diz Assumpção, também assíduo usuário das redes sociais.

Curiosamente, Assumpção só competiu na etapa de São Paulo da Copa do Mundo, na qual foi ouro no salto, devido a uma contusão de Nory —o mesmo ginasta que mudaria seu rumo em 2015 devido a um vídeo, dias depois.

"Graças a Deus isso aconteceu agora. Tem um lado positivo, imagine se acontecesse perto de uma Olimpíada, faltando um mês... Não foi por mal. Pode acontecer em qualquer lugar", conclui o ginasta, que diz estar com corpo e mente prontos para 2016.


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