Folha de S. Paulo


WTorre cobra R$ 3,4 milhões de custos do estádio, e Palmeiras vai contestar

Mais de nove meses após a primeira partida do Palmeiras em sua nova casa, o Allianz Parque, o clube recebeu a conta da construtora WTorre com os custos dos jogos que sediou lá.

Segundo a conta da construtora, que informou o clube por meio de notificação em 31 de agosto, o Palmeiras deve pagar cerca de R$3,4 milhões referentes a reembolso de despesas com o estádio em dias de jogos.

No entanto, a cobrança contém pontos controversos que, segundo apuração da Folha, serão contestados pelo clube.

Um ponto crítico diz respeito à segurança em dias de jogos.

O Palmeiras tem questionado a WTorre há meses quanto a contratação de agentes para locais do estádio em que o clube já disponibiliza funcionários, gerando duplicação. Isso acontece no portão C1, no estacionamento e nas saídas de emergência.

A segurança nos camarotes da própria WTorre também é cobrada do Palmeiras pela construtora.

Além disso, o clube paga valores significativamente inferiores aos vigilantes que contrata: R$ 329, contra R$ 513.

A WTorre pede reembolso de cerca de R$ 500 mil no tocante a gastos com segurança nos 26 jogos até a notificação.

Além dessa questão, a notificação de cobrança dos valores totais foi entregue sem comprovantes dos custos e despesas, e a medição do consumo de itens como água e gás, por exemplo, foi feita sem acompanhamento de um representante do clube.

No entendimento de membros do clube, segundo apurado pela reportagem, a cobrança de valores referentes à manutenção do estádio desrespeita o que está previsto na escritura assinada pela construtora e o Palmeiras.
Os custos de manutenção do estádio seriam responsabilidade exclusiva da WTorre.

A empresa pede o pagamento de R$ 144.348 despendidos na manutenção do gramado, por exemplo. Nesse valor estão inclusos preparação e recuperação do solo e os gastos com equipamentos de iluminação artificial, que seriam encargos da construtora.

Quanto aos geradores, a cobrança dos custos com consumo de energia é entendida como razoável. No entanto, o pedido de mais de R$ 16 mil por gastos com responsável técnico e horas trabalhadas dos geradores não faria jus ao acordado entre as partes.

Assim como os geradores, a internet seria parte da infraestrutura básica do estádio, tal como cadeiras ou portões, e não faria sentido o reembolso dos custos de utilização desses itens.

Entre as despesas fixas cobradas, há gastos com a preparação e a manutenção do gramado; consumo de água e de gás; uso do gerador; e link de dados da internet.

Entre as despesas variáveis estão produtos e serviços de limpeza; segurança; e promotores (funcionários encarregados de orientar e organizar os torcedores).

Procurado pela Folha, o Palmeiras disse que não se pronunciará sobre o tema.

WTORRE

Em nota, a construtora afirma que a cobrança ao Palmeiras não inclui custos de manutenção, que são de fato da WTorre.

"O caso do gramado é um bom exemplo. O que é cobrado do clube é apenas o valor de recuperação do piso. O custo de manutenção (corte, adubação, aeração, iluminação artificial, etc.) é assumido integralmente pela WTorre. O trabalho de recuperação, que só existe após a realização de um jogo, é custo do 'evento' e, portanto, deve ser assumido pelo clube", afirma.

A construtora também ressalta que o clube pode acompanhar toda e qualquer medição, e que pode auditar as cobranças, se quiser.

"Nos últimos meses, as partes estavam mantendo tratativas para apurar o pagamento destas despesas mas, por parte do Palmeiras, elas não evoluíram", respondeu.

Sobre os geradores, a construtora discorda que se trate de um item de infraestrutura.

"O parque de geradores da arena é um diferencial do Allianz Parque, justamente para evitar o que se viu no Morumbi: uma partida interrompida por falta de energia elétrica. Se o clube não quiser pagar pelos geradores, terá os seus jogos com fornecimento apenas da rede pública, com o risco de interrupção de uma partida. Fica a critério do clube. Não é obrigatório", argumentou.

Por fim, a WTorre ressalta que os camarotes geram receita que favorece o próprio clube.

"Os camarotes (produto cujo percentual de receita favorece o Palmeiras) compram ingressos para os jogos (100% da receita para o clube) e pagam anuidade, além de alimentos e bebidas, receitas com as quais o clube também leva um percentual crescente. Trata-se de cumprir o contrato: o Palmeiras não paga aluguel, apenas arca com os custos de operação do estádio gerado pelos seus jogos, como já arcava no antigo Palestra Itália", termina a nota.

RELAÇÃO TENSA

A cobrança é mais um capítulo da relação tensa entre clube e construtora. Em situação financeira desconfortável, agravada pela Operação Lava Jato, que fez com que bancos travassem o crédito para a construção civil como um todo –a WTorre não está nas investigações–, a empresa enfrenta pedidos de falência por parte de fornecedores e recebeu uma proposta de compra do Allianz Parque –revelada pela Folha em agosto.

Atualmente, ambos se enfrentam em arbitragens para discutir os direitos de comercialização das cadeiras da arena, entre outros temas.


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