Folha de S. Paulo


Arquiteto do Itaquerão reclama de atrasos e vê obra com roteiro caótico

Arquiteto do escritório responsável pelo projeto do Itaquerão e contratado pelo Corinthians, Anibal Coutinho avalia o andamento das obras do estádio, a cargo da empreiteira Odebrecht, como um "roteiro caótico". Diz que operação acentua "o aspecto de obra sem fim" e aponta um cenário geral "desrespeitoso e de descalabro".

Essas observações constam de um relatório de acompanhamento das obras da Arena Corinthians enviado pelo arquiteto para a diretoria do clube em agosto.

O documento, ao qual a Folha teve acesso, revela um quadro de tensão entre o Corinthians e a construtora.

Embora faltem poucos dias para o fim dos trabalhos da empresa no estádio, o Itaquerão ainda tem dezenas de itens incompletos, de acordo com ele, que não vê perspectiva de conclusão das obras. Além dos centros de convenções não acabados, muitas partes de acabamento foram deixadas para trás, aponta o parecer.

Segundo o arquiteto, o atraso na conclusão do estádio é irregular, considerando o contrato firmado entre o clube e a construtora. O principal problema é que impede a geração de receitas.

"Esses prejuízos atingiram principalmente as propriedades de direitos de nomeação, desde o nome do estádio, das áreas VIP, dos camarotes de festas, etc., as quais, progressivamente têm menos valor, tal o desgaste provocado", afirma Anibal em sua análise.

Editoria de arte/Folhapress
Documento do Itaquerão
Folha teve acesso ao documento em que o arquiteto critica o Itaquerão

De acordo com o ex-presidente do clube, Andrés Sanchez, que supervisiona as obras desde o início, o acompanhamento realizado por Coutinho é uma função estabelecida em contrato. Sanchez, contudo, não quis comentar as críticas.

"Para agravar a situação, a implementação das obras segue um roteiro caótico e randômico", descreve Coutinho.

Na conclusão, pede "imediata apuração das responsabilidades pelos fatos", dizendo também que a somar-se aos prejuízos já "brutalmente" causados à geração de receitas da arena, está adição de juros.

Explica-se: o Corinthians tenta aumentar o prazo de carência do pagamento, para começar a quitar o empréstimo do BNDES em fevereiro do próximo ano. Sendo assim, haverá mais juros, já que as parcelas terminarão mais tarde do que o previsto.

Enquanto não sabe se vai conseguir a extensão do prazo, o clube, por meio do fundo que administra a arena, tem de desembolsar R$ 5 milhões por mês para quitar o financiamento.

O tempo máximo para o pagamento do empréstimo do BNDES, de R$ 400 milhões, é de 180 meses, ou seja, 15 anos.

O valor do estádio, em contrato com a Odebrecht, é de R$ 985 milhões. Com juros, o custo ao Corinthians para erguer sua casa própria é de cerca de R$ 1,2 bilhão.

Procurado, o arquiteto não quis comentar o relatório.

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem para comentar o relatório do arquiteto do Corinthians, Aníbal Coutinho, que faz críticas contundentes ao andamento das obras da Arena Corinthians, a Odebrecht enviou uma nota.

A construtora "reitera que concluirá até o final deste mês as poucas obras de acabamento que ainda faltam na Arena Corinthians. Nos referimos, obviamente, às obras que estão sob nossa responsabilidade".

A Odebrecht afirma ainda que "um dos poucos espaços ainda não finalizados é o centro de convenções, que já está quase pronto. Todas as etapas da obra foram estabelecidas de comum acordo com nosso único cliente neste contrato, que é o Sport Club Corinthians Paulista".

A construtora conclui: "Assim sendo, não podemos responder a questionamentos de outras empresas ou pessoas que não sejam representantes do SCCP [em referência ao Corinthians]".


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