Folha de S. Paulo


Prata no Mundial de Kazan, Etiene faz yoga e tem temperamento forte

Ao ver a pupila com "cara de travesseiro" no trajeto entre a vila dos atletas e a Arena de Kazan, Fernando Vanzella logo deduziu que ela havia dormido mal.

Não era o que técnico da nadadora pernambucana esperava ver a poucas horas de uma decisão de Mundial, a maior de todas da carreira.

Um pouco mais tarde, Vanzella a viu chorando e concluiu que precisava agir. "Conversei com ela sobre a felicidade de estar aqui, em Kazan", contou. Ao que parece, Etiene Medeiros, 24, reagiu bem. Ao ser chamada para a raia 5, destinada à segunda melhor classificada, ela já demonstrava mais confiança.

Depois de 27s26, ela mudou sua história e a da natação brasileira. Com o tempo, novo recorde sul-americano, ficou na segunda posição na prova dos 50 m costas e se tornou a primeira mulher do país medalhista em Mundial em piscina longa (50 m). Os homens têm 17 medalhas.

Essa competição só perde em relevância para os Jogos Olímpicos.

Nessa prova que, infelizmente, não está na Olimpíada, Etiene ficou entre duas chinesas: Fu Yuanhui (27s11) e Liu Xiang (27s58).

"Em menos de dez meses, tive medalhas e recordes importantes", disse a atleta.

A conversa com a imprensa após a prova foi paralisada para um longo abraço dela em Vanzella, que tinha acalmado ela minutos antes (o técnico classificou como um "estressezinho").

Ao falar nos tais dez meses, Etiene citou as conquistas recentes que a tornaram uma pioneira. Tem se tornado uma especialista em quebrar barreiras na natação.

Em dezembro, ao vencer justamente os 50 m costas no Mundial de Doha, este disputado em piscina curta (25 m), sagrou-se a primeira mulher do país campeã do planeta. Foi recorde mundial.

No mês passado, triunfou nos 100 m costas no Pan de Toronto. Foi o primeiro ouro da natação feminina nacional nesta competição.

"Não tenho noção do que fiz", disse Etiene, que pratica ioga, mas não esconde o temperamento forte. Ela é a líder da seleção feminina, que busca a reafirmação após não alcançar sequer uma final nos Jogos de Londres.

Hoje, detém três recordes sul-americanos em piscina longa, nos 50 m costas, 100 m costas e 50 m livre, prova cujas eliminatórias em Kazan serão realizadas neste sábado (8). Etiene tem o oitavo melhor tempo desta temporada (24s55).

Nada mal para quem era preguiçosa para treinar quando criança. Contudo, começou a se destacar no clube Sport Recife e acabou por estourar no Mundial júnior de Monterrey, em 2008, com uma prata nos 50 m costas. Hoje ela defende o Sesi, em São Paulo.

A estrela em ascensão tenta matar a saudade de casa à base de tapioca, um de seus pratos favoritos –ela, aliás, fez faculdade de gastronomia– e com a companhia de seu cachorro, Caju.

Nem sempre é fácil lidar com a saudade. Até por isso, a nadadora tatuou a palavra "ohana" nas costas, que significa família em havaiano.


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