Folha de S. Paulo


Sob teste psicológico, dupla da vela faz dieta para o Pan

Campeãs mundiais da vela na classe 49er FX, a dupla Martine Grael e Kahena Kunze encontraram o primeiro desafio nos Jogos Pan Americanos : a proximidade com o refeitório da Vila dos Atletas.

"Dá vontade de entrar sempre quando passo por ali", disse Kahena já no segundo dia na vila.

O desafio gastronômico combina os dois objetivos da dupla em Toronto. De um lado, habituar-se com as "tentações" de vilas e megaeventos esportivos antes da Olimpíada de 2016, no Rio, quando esperam confirmar seu favoritismo.

De outro, manter a forma para a competição diferente que começa neste domingo (12) no lago Ontário. Pela primeira vez, as duas tiveram que emagrecer para velejar.

"Nossas competidoras são mais leves. Como são poucas, decidimos perder um pouco de peso para não ter qualquer desvantagem", disse Martine, 62 kg segundo o COB (Comitê Olímpico Brasileiro).

Acostumadas a disputar regatas contra até 40 adversárias, elas terão no Pan apenas seis duplas rivais. O nível técnico não é considerado alto, embora haja boas competidoras argentinas e canadenses.
"Muda um pouco a estratégia. Mas não sabemos ainda como. Só vamos ter noção quando começar a regata. Nunca disputamos uma assim", disse Martine.

No topo do ranking mundial desde 2013, quando foram vice-campeãs, a dupla chega a Toronto sob expectativa alta.

A intenção do técnico da equipe, Torben Grael (pai de Martine), ao incentivar a participação da dupla no Pan foi justamente submetê-las a condições mais próximas possíveis da Olimpíada a fim de "evitar surpresas" em 2016. O objetivo é aprender a competir em alto nível mesmo com as "distrações" da vila e pressão por resultado mais forte do que nas competições da modalidade.

Além da tentação do refeitório, a dupla reencontrou amigos do polo aquático, com quem conviveu na vila da Universíade-2011, em Pequim, espécie de Olimpíada universitária.

"Esses eventos têm muitas distrações mesmo. A gente está bem focada na experiência do Pan para a Olimpíada", diz Martine.

As duas reconhecem a importância da experiência. Mas pedem cautela na cobrança em relação ao resultado em Toronto.

"Vamos em busca do ouro, como em toda competição. Mas não depende só de nós, mas também das outras adversárias e das condições de vento", disse Kahena, 68 kg segundo o COB.

Uma das preocupações são as condições para velejar no lago Ontário. As provas preliminares serão disputadas numa área mas afastada da orla. Mas a regata de disputa de medalha será mais próxima, o que reduz a força do vento em razão da proximidade dos prédios altos.

"No Brasil temos em algumas provas vento fraco. Mas não tão extremo quanto podemos encontrar aqui", disse Kahena.

A troca de local na prova visa permitir que o pública assista à prova da Sugar Beach, pequeno trecho de areia com sombrinhas rosas instalada na orla central de Toronto como parte da revitalização da área.

Colaborou MARCEL MERGUIZO, enviado especial a Toronto


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