Folha de S. Paulo


Poucos atletas com menos de 23 anos se destacam no Brasileiro

Surpresa na última convocação de Dunga para a seleção brasileira, Anderson Talisca, 20, deixou o Bahia em julho deste ano, mas quatro meses depois do adeus virou uma exceção no Brasileiro.

No ano em que a CBF anunciou prioridade para a seleção olímpica, com calendário igual ao da seleção principal, e a dois anos dos Jogos do Rio, o atacante –hoje no Benfica– é o único jogador com menos de 23 anos a liderar um fundamento no Brasileiro, segundo o Datafolha.

Apesar de ter feito apenas nove jogos, Talisca ainda tem a melhor média de finalizações no torneio –4,3 por jogo, bem à frente do segundo, o lateral direito Edílson, que teve o contrato rescindindo com o Botafogo, com 3,1.

O atacante também aparece entre os que mais fazem lançamentos –é o segundo no ranking, com média de 1,1 lançamento por partida.

Além dele, o Brasileiro tem somente outros nove jogadores com idade inferior a 23 anos figurando entre os dez primeiros em dez fundamentos positivos (passes certos, finalizações, cruzamentos, desarmes, bolas recebidas, lançamentos, dribles, gols, assistências e defesas).

Bruno Cantini/Divulgação/Atlético Mineiro
O atacante Diego Tardelli, 29 anos, comemora gol pelo Atlético-MG
O atacante Diego Tardelli, 29 anos, comemora gol pelo Atlético-MG

O atacante Erik, 20, do Goiás, tem dez gols e é o sétimo artilheiro. Os zagueiros Jubal, 21, do Santos, e Nathan, 19, do Palmeiras, ocupam o oitavo e o nono lugar, respectivamente, em desarmes –médias de 18,3 e 18,1.

O lateral direito Mayke, 22, do Cruzeiro, deu sete assistências e aparece em quinto no ranking dos "garçons" do Brasileiro. O meia Lucas Silva, 21, também do clube campeão nacional, é o quinto em eficiência de passes, com 90% de acerto no torneio.

Entre os melhores lançadores está o lateral esquerdo Euller, 19, do Vitória, com média de 0,6 lançamentos por jogo –é o sétimo melhor neste ranking.

Outros três atletas se destacam entre os que mais driblam no campeonato.

O meia Allione, 20, do Palmeiras, o atacante Dudu, 22, do Grêmio, e Marcelo, 22, atacante do Atlético-PR, tem média de 2,6 dribles por jogo estão na sexta, sétima e oitava colocação, respectivamente.

FALTA DE INTEGRAÇÃO

Apesar da escassez de jovens nas principais estatísticas que revelam qualidade técnica, os técnicos Ney Franco e Renê Simões, que já foram campeões com a seleção em competições de base, discordam de que isso possa significar uma crise de revelações no futebol brasileiro.

Para Ney Franco, técnico do Vitória, os mais jovens estão começando a ser firmar, não tem sequência de jogos e às vezes atuam pouco tempo nas partidas. Assim, é natural que os mais experientes dominem as estatísticas.

"A concorrência com nomes consagrados e a falta de sequência de jogos não permitem aos jovens terem números expressivos", disse.

Para Renê Simões, atualmente sem clube, uma outra explicação é a falta de integração entre o departamento de base com o profissional. Assim, muitas vezes, os jovens são promovidos para tapar buracos quando há alguém suspenso ou lesionado.

Um exemplo é o atacante Malcom, 17, do Corinthians, que passou a ganhar espaço com as saídas de Romarinho e Emerson e as constantes convocações de Guerrero (Peru) e Romero (Paraguai).

"Não existe uma integração verdadeira. O Marcelo Oliveira, do Cruzeiro, não tem tempo de ver o time sub-15, sub-17 e sub-20. O mesmo ocorre com Vagner Mancini, no Botafogo, Muricy Ramalho, no São Paulo, e os outros. Quem deveria fazer isso é o diretor técnico, figura que faz falta aos clubes", diz Simões.

"Jogadores temos, a safra é boa, o que falta é integração inteligente", completa.


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