Folha de S. Paulo


Havia muitos no mercado, mas o homem era o Dunga, diz Gilmar

Dunga sempre foi o preferido. Mas outros três nomes estiveram no radar do coordenador de seleções da CBF, Gilmar Rinaldi, para substituir Luiz Felipe Scolari depois do fracasso da seleção brasileira na Copa de 2014.

Nenhum deles estrangeiro, algo que o dirigente disse que nunca foi cogitado por ele e pela cúpula da CBF (o presidente, José Maria Marin, e o vice e presidente eleito, Marco Polo Del Nero).

"Vimos que havia muitos técnicos competentes no mercado brasileiro. O Marcelo Oliveira [do Cruzeiro], que particularmente conheço muito bem, meu amigo, o Tite [sem clube], excelente qualidade, o Muricy [Ramalho, do São Paulo], mas com base no perfil e no momento da seleção chegamos à conclusão de que o homem era o Dunga", disse Gilmar, 55, que conversou com a Folha no hotel em que a seleção esteve hospedada em Nova Jersey, entre os amistosos do Brasil neste recomeço de Dunga como técnico –vitórias de 1 a 0 sobre Colômbia e Equador.

Logo na convocação inicial, Gilmar teve de administrar uma crise. Ele e Dunga precisaram dispensar Maicon, o jogador mais experiente do grupo que estava nos EUA porque o lateral se atrasou mais de 12 horas para se reapresentar depois da folga.

Yasuyoshi Chiba/AFP
Gilmar Rinaldi durante entrevista no Rio
Gilmar Rinaldi durante entrevista no Rio

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CASO MAICON

O lateral, mesmo aos 33 anos (terá quase 37 na Copa da Rússia-2018), tinha o perfil desta nova seleção "com gana de vencer", na opinião de Gilmar e Dunga. "Queremos jogadores que queiram ganhar. E aí se encaixava o Maicon, que foi convocado porque é macho pra caramba, entra em campo e dá conta do recado. Ele vai entrar com dor no joelho e jogar. Esse perfil me interessa. Infelizmente teve o problema dele e vamos em frente"

JOGADORES CARISMÁTICOS

Na Copa-2014, alguns jogadores mais carismáticos, como Neymar e David Luiz, tiveram exposição na mídia superior ao restante do time. Rinaldi quer mais discrição nesta nova fase da seleção. "O que a gente quer é o craque do campo. Na parte pública dele pode fazer o que quiser, no cabelo, por exemplo, mas antes e depois da seleção. Normal que tenha um jogador mais carismático, mas não queremos o cara que vai dar mais ibope, mas o cara que vai dar o maior rendimento dentro de campo", afirmou.

POR QUE DUNGA

Gilmar recebeu a primeira ligação da dupla Marin/Del Nero numa noite de domingo, horas depois da final da Copa-2014 no dia 13 de julho.

No dia seguinte foi convidado e aceitou o cargo de coordenador. Ao definirem o perfil que queriam, descartaram opções "óbvias" como Tite, Marcelo Oliveira ou Muricy Ramalho e se fixaram em Dunga, o que surpreendeu porque o técnico comandou a seleção na Copa-2010, com eliminação nas quartas de final, e nesses quatro anos entre sua saída e recontratação teve apenas um trabalho como treinador, no Inter-RS.

"O perfil era alguém que resgatasse o gosto de jogar pela seleção brasileira. O Dunga vive seleção desde os 15, 16 anos na base. Ele teve alguns erros no passado, mas amadureceu bastante".

Rhona Wise/Efe
O técnico Dunga comanda um treino da seleção brasileira, em Miami, nos Estados Unidos
O técnico Dunga comanda um treino da seleção brasileira, em Miami, nos Estados Unidos

SABATINA

Pouco antes de Dunga ser convidado, Gilmar teve um papo com um jogador que teve problemas de relacionamento com o técnico na primeira passagem dele pela seleção, entre 2006 e 2010. "Eu sabia que ele [Dunga] teve alguns problemas [com atletas], e falei com esse jogador, que hoje não vou te falar quem é. Ele me confirmou os problemas na época, mas elogiou. Disse esse é fera, eu respeito e é preparado'. Nesse momento percebi que era ele mesmo", contou.

A relação conturbada do treinador com a imprensa na primeira passagem, principalmente com a TV Globo, que é parceira da CBF, também foi tema das discussões.

"Teve um almoço na CBF, pouco depois de o Dunga assumir. Um representante de uma federação levantou o assunto, dizendo que na primeira passagem foi complicado [relação com a imprensa]. Dunga pegou a palavra e disse que foi complicado, mas que ele cumpriu tudo o que foi combinado. E havia um representante da Globo na mesa. O fato é que o Dunga está amadurecido, ele mesmo falou isso", disse Gilmar.

EMPRESÁRIO

Gilmar Rinaldi foi goleiro, jogou em grandes clubes do futebol brasileiro, como São Paulo e Flamengo, e foi campeão com a seleção brasileira em 1994. Ao encerrar a carreira passou a exercer a função de procurador de jogadores, o que gerou críticas quando foi contratado devido ao conflito de interesse. Até ele achou estranho, inicialmente, receber o convite.

"Eu disse [a Marin e Del Nero]: vocês estão loucos, vão tomar paulada de todo lado. Disseram que eu tinha o perfil pelas ideias que havia apresentado em uma conversa informal. Não ligo para as críticas. Já vasculharam minha vida quando assumi e não acharam nada".


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