Folha de S. Paulo


Investigação da Fifa sobre Qatar recomenda ações contra cartolas

A Fifa anunciou nesta sexta-feira (5) que recebeu a investigação feita pelo promotor americano Michael Garcia sobre a escolha do Qatar para sediar a Copa de 2022.

O documento tem 350 páginas e aponta, entre outras coisas, irregularidades cometidas por cartolas no processo. Segundo a Fifa, o relatório menciona medidas a serem tomadas em relação a "certos indivíduos", sem especificar nomes.

A investigação de Garcia, que chefia o Comitê de Ética da Fifa, identifica ainda falhas relacionadas a órgãos da entidade e faz recomendações sobre futuros processos de escolha de sedes. A Fifa não diz qual foi a conclusão do promotor –se ele, por exemplo, faz alguma recomendação para mudança de sede da Copa.

Pelo menos 75 pessoas foram ouvidas e o processo reúne 200 mil páginas. A expectativa é que Garcia, ao apontar a conduta de algumas pessoas, tenha detalhado como dinheiro e privilégios foram distribuídos a cartolas e federações no processo de escolha do Qatar.

Um dos principais casos envolve federações africanas que teriam recebido dinheiro em troca de apoio dos quatro representantes da África que faziam parte do comitê da Fifa na época. O escândalo se agravou no começo de junho depois que o britânico "The Sunday Times" publicou documentos comprovando, segundo o jornal, que pelo menos US$ 5 milhões teriam sido gastos para o Qatar "comprar" apoios.

Obviamente, o nome do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira aparece no processo já que, em 2010, ano da escolha, ele era membro do Comitê Executivo da Fifa, órgão que então decidia as sedes. Na época, o Qatar venceu candidaturas de EUA, Austrália, Coreia do Sul e Japão.

Em 2013, a Fifa alterou as regras para a escolha da sede a partir da Copa de 2026: não será mais o Comitê Executivo, mas os 209 delegados do seu Congresso.

Agora, o Comitê de Ética vai analisar o material para decidir os próximos passos a tomar em relação ao processo.

Conforme a Folha mostrou em julho, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, já chegou a sinalizar, em conversas reservadas, disposição em trocar a sede de 2022, algo que a entidade nega oficialmente. Um dos principais motivos, além de tentar "limpar" a imagem da entidade, seria desgastar o presidente da Uefa, Michel Platini, seu desafeto e então cotado para disputar a presidência da Fifa em 2015.

O ex-jogador francês teve o nome mencionado no escândalo por supostos encontro secretos com o qatariano Mohamed Bin Hammam, ex-vice-presidente da Fifa e apontado como pivô da distribuição do dinheiro. Na semana passada, ele anunciou a desistência de concorrer ao cargo de Blatter para tentar permanecer no comando da Uefa.


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