Folha de S. Paulo


Aumento de gastos com PM compromete arrecadação de clubes paulistas

O aumento dos gastos com a segurança da PM (Polícia Militar) neste Campeonato Brasileiro já compromete a arrecadação dos clubes paulistas. Hoje, por hora de serviço, os clubes pagam R$ 30,21 para cada policial destacado, cerca de 520% a mais do que gastavam por hora no passado —o valor era de R$ 29,05 por um período de seis horas por profissional.

Promulgada pelo governador Geraldo Alckmin em dezembro de 2013 e válida desde 27 de março deste ano, a lei 15.266 elevou essa taxa.

Por exemplo, só no primeiro clássico do Itaquerão, diante do Palmeiras, no último dia 27, o Corinthians gastou mais com policiamento do que nos seus 19 jogos como mandante no Brasileiro do ano passado. Foram R$ 123.287,01, contra R$ 100.930,14 no torneio passado.

Diante do Internacional, mais R$ 89.492,02. Em partidas que testaram a arena para a Copa do Mundo, mais R$ 132.803,16 na abertura contra o Figueirense, e R$ 393.303,99 diante do Botafogo.

Não são casos isolados, de acordo com súmulas publicadas nos sites da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e da FPF (Federação Paulista de Futebol).

O chefe do departamento de segurança da FPF, Marcos Marinho, admitiu na sexta-feira (8) à Folha que muitos clubes paulistas têm reclamado do aumento das despesas com policiais militares nos estádios.

Além disso, a própria PM determina a quantidade de policiais e a duração do serviço.

"Esse custo antes significava de 2 a 3 % das despesas do jogo. Hoje chega a 22%. O impacto é grande", afirmou o Palmeiras via assessoria de imprensa.

Nos jogos contra Chapecoense e Criciúma juntos, o São Paulo teve mais despesa com o efetivo da PM do que nos 19 duelos em casa da Série A do ano passado.

"Esse valor nos preocupa. Os clubes têm dificuldade para suportá-lo", admitiu o vice-presidente de administração e finanças do clube do Morumbi, João Paulo de Jesus Lopes. "Entendemos que não são eventos onerosos para a PM".

Ricardo Nogueira - 20.nov.2011/Folhapress
Policias trabalham durante jogo no Pacaembu
Policias trabalham durante jogo no Pacaembu

CLÁSSICO SEM POLÍCIA

No dia 3, o clássico de Ribeirão Preto pela Copa Paulista foi adiado porque o Botafogo não aceitou pagar a taxa de policiamento. Teve o apoio do rival Comercial, também preocupado com os gastos do jogo do returno, marcado para 6 de setembro.

O Botafogo alega que a Polícia Militar estabeleceu, para os no máximo 4.500 espectadores, um efetivo de 149 policiais, o que geraria um gasto de aproximadamente R$ 27 mil. No Estadual, o ônus com policiamento no Come-Fogo foi de R$ 4.491,22, com quase 15 mil pagantes.

"A gente imaginava ter lucro de R$ 15 a 20 mil, mas com essa taxa se tornou inviável. Os clubes do interior já estão todos quebrados. Agora, vai ser muito pior. Estão acabando com todos eles", disse o presidente botafoguense, Rogério Barizza.

"Se for esse valor, compensa jogar com portões fechados. Com isso, o prejuízo é menor", afirmou o vice-presidente do Comercial, Rogério Vieira.

"Queríamos seguranças particulares. Acertamos com 70 deles, mas a FPF não liberou", contou Barizza.

Marinho confirmou que não autorizou o clássico nessas condições. "Quem vai obedecer a segurança particular? Com a PM, que tem a técnica, a situação já é complicada. Não dá para arriscar", avaliou o dirigente da FPF.

SEGURANÇAS PARTICULARES

Federação e clubes concordam que os PMs são mais capacitados para a função do que seguranças particulares. Corinthians e São Paulo rejeitam a ideia de recorrer a segurança privada.

Em dezembro do ano passado, o jogo entre Vasco e Atlético-PR sem a presença da PM, sob cuidados só de seguranças particulares, terminou em briga generalizada na arquibancada da Arena Joinville, em Santa Catarina.

"Vamos fazer uma reunião com os clubes. Integração entre PM e segurança particular seria a melhor solução", opinou Marinho.

"Se o governo se sensibilizar, pode mudar a lei. Ele já reviu os horários de funcionamento do metrô", afirmou o são-paulino Lopes. "Minha intenção é conversar com secretários para analisar o que pode ser feito".

Sem entrar em detalhes, o Palmeiras informou já ter iniciado "a busca por uma solução que diminua esse custo, desde que não comprometa a segurança dos torcedores".

O gerente de operações do Corinthians, Lúcio Blanco, sugere união de clubes e federação. "Não podemos conversar de forma isolada".

"Os deputados que aprovaram essa lei não sabem o mal que fizeram aos clubes, e o governador assinou", criticou o presidente do Penapolense, Nilso Moreira.

Geraldo Bubniak-8.dez.2013/Fotoarena/Folhapress
Torcedores de Atlético-PR e Vasco brigam na Arena Joinville, em Santa Catarina, no Brasileiro-2013
Torcedores de Atlético-PR e Vasco brigam na Arena Joinville, em Santa Catarina, no Brasileiro-2013

OUTRO LADO

A Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo, por meio da sua assessoria de imprensa, afirmou que pratica valor de mercado no policiamento de partidas de futebol.

"O valor é o mesmo cobrado pelas empresas de segurança privada para prestação de serviço equivalente", alegou, incluindo gastos com viaturas, combustíveis e armas.

O órgão estadual defendeu que a cobrança de R$ 30,21 "por hora de trabalho prevê a preservação e o bom uso do patrimônio público".

"A Polícia Militar integra a força policial responsável pela segurança pública da população. Jogos e demais eventos previstos na lei são privados, motivo pelo qual é feita a cobrança pelo serviço especializado", explicou.

A assessoria do governo paulista ressaltou que, em partidas importantes, "são destacados até 600 policiais da Rocam, Cavalaria e batalhão regional para o policiamento preventivo e ostensivo, além do 2º Batalhão do Choque, que atua dentro do estádio".

Informou também que, até agora, nenhum clube fez reclamação ao Estado sobre o aumento da taxa.


Endereço da página:

Links no texto: