Folha de S. Paulo


Saretta perde na reestreia depois de cinco anos parado

"Porra, velho, coragem para jogar esta merda."

Foi um dos desabafos do tenista Flavio Saretta, 33, para si mesmo em seu primeiro jogo em uma chave principal de um torneio desde março de 2009.

Ver e "ouvir" a derrota do ex-número 44 do mundo para o argentino Diego Schwartzman, 122º do ranking, por duplo 6/2 no Challenger de São Paulo ajudam a entender os motivos que o fizeram voltar ao circuito profissional.

O paulista de Americana, que chegou às oitavas de final de Roland Garros e à terceira rodada de Wimbledon e do Aberto dos EUA, jogou na tarde nublada de terça-feira na quadra 1 do Clube Paineiras do Morumby.

A poucos metros dali, a TV da lanchonete mostrava o jogo entre o espanhol Guillermo Garcia-Lopes e o ucraniano Alexandr Dolgopolov no Masters 1.000 de Montecarlo.

Na pequena arquibancada de dois degraus montada ao lado da quadra havia sete pessoas no início da partida.

O público cresceu ao decorrer do confronto. A atriz Suzana Alves, mulher do tenista, que ficou conhecida como a personagem "Tiazinha", chegou no segundo game, quando ele já perdia por 2 a 0, com um prato de aperitivos para os amigos de Saretta.

Mastrangelo Reino/Folhapress
O tenista Flavio Saretta com a mulher, Suzana Alves, durante festa em São Paulo, em 2010
O tenista Flavio Saretta com a mulher, Suzana Alves, durante festa em São Paulo, em 2010

Ele mostrou que o temperamento explosivo –é famoso entre os fãs de tênis o seu grito de "Out é o cacete" para o juiz no Aberto dos EUA de 2006–, continua intacto ao reclamar de um pedaço da quadra de saibro que não estava devidamente compactado.

"Caralho, a quadra tá boa hein?", disse se dirigindo ao árbitro após perder um ponto.

O golpe de esquerda não é tão efetivo como antes, mas ainda faz parte de seu repertório, como mostraram alguns winners (bolas vencedoras) que arrancaram manifestações entusiasmadas da torcida.

Ele sabe disso e reclama para si mesmo quando falha. "Caralho, quando começo a errar a esquerda é que a coisa tá feia."

Chamado de pequeno por seu técnico, Sebastian Prieto, o argentino Schwartzman, de 1,70 m, segue a estratégia traçada e incomoda Saretta com suas bolas planas e baixas.

O saque do rival, que é lento mas bem colocado, também irrita o brasileiro.

"Tenho no mínimo um metro e meio a mais do que ele e não consigo sacar", resmungou Saretta, 1,83 m, após um ace (saque indefensável) do rival.

A torcida deu risada e deixou Schwartzman curioso. Ele perguntou ao técnico o que o brasileiro havia dito.

"Não consegui entender", afirmou Prieto, que é apenas cinco anos mais velho do que Saretta, a quem enfrentou e venceu uma vez, em 2001.

A torcida procura incentivá-lo gritando "experiência" e no fim de jogo alguém diz: "Vamos lá, o Felipe está vendo".

Depois o torcedor vira para o filho de Saretta, de nove anos, e confirma se o nome estava correto.

O brasileiro ainda reclamou mais duas vezes da quadra –"Quantas vezes vou ter que pedir para arrumar? Vai acabar o jogo assim..."– antes de o argentino selar a vitória após uma hora e 18 minutos.

Saretta deixa quadra rapidamente e sem conversar com ninguém. À reportagem, diz que vai falar depois de tomar banho e da fisioterapia.

Após pegar o prize money (US$ 415 pela simples e US$ 145 pelas duplas, na qual também caiu na estreia), Saretta
atende os jornalistas.

Disse ter ficado satisfeito com sua performance depois de cinco semanas de treino, mas acrescentou ainda ter muita coisa a melhorar.

"O tênis tem muita coisa automática. A minha esquerda paralela, por exemplo, era normal eu finalizar o ponto com ela. E agora eu fico forçando o jogo por ali", afirmou.

Saretta diz ainda não saber quanto tempo vai durar sua volta, mas se diz empolgado.

"Todo mundo que para quer voltar, mas não tem coragem para isso."

Ele planeja agora disputar o Challenger de Santos, na semana que vem.

Para isso, porém, precisa de um convite assim como aconteceu para jogar no Paineiras.

A chance é grande, já que os organizadores são os mesmos, e a concorrência, pequena.


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