Folha de S. Paulo


Claro que queria ter lutado com o Vettel nestes anos, diz Hamilton

Em apenas cinco anos, a vida de Lewis Hamilton passou por uma transformação.

Cortou relações com o pai, Anthony, seu empresário desde os tempos de kart, assinou contrato com uma grande empresa de marketing esportivo, terminou o namoro com a cantora Nicole Scherzinger, trocou a McLaren pela Mercedes após seis anos como titular, adotou dois cachorros e começou a gravar um CD.

Não à toa, seu desempenho nas pistas despencou. Depois de conseguir nove vitórias em seus dois primeiros anos na categoria, somou 13 nas cinco temporadas seguintes. Mais que isso, viu seu status de "prodígio" da F-1 ser ofuscado por Sebastian Vettel.

"Não acho que ele tenha roubado nada de mim. Claro que teria sido legal se eu pudesse ter lutado com o Sebastian nestes anos, mas tive minha época", disse o piloto inglês à Folha antes de disputar o GP Brasil em Interlagos, onde em 2008 foi campeão.

"Tive muita sorte de entrar na F-1 numa equipe de ponta e já em condições de lutar pelo título desde o começo. Mas depois foi a época dele de brilhar. Tem sido um longo período, tenho que admitir. Mas espero voltar a ter minha vez", disse.

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Folha - O primeiro ano na Mercedes foi como imaginava?
Lewis Hamilton - Foi acima da expectativa em termos de performance da equipe e de como eu me dei bem com o time. Do meu lado, não estou 100% satisfeito com a minha performance, não sei especificar uma ou outra razão. Mas chegar na primeira corrida no "bolo" foi muito legal. Sinceramente eu me preparei para ser algo como o décimo, no começo da temporada, e foi muito melhor. E o fato de tantas pessoas terem criticado minha escolha ainda deixou as coisas muito melhores. Só tenho que agradecer a Deus.

Você está onde esperava estar depois de sete anos na F-1?
Quando cheguei, não tinha exatamente uma expectativa do que iria fazer. Quando assistia, pensava que poderia lutar de igual para igual com o Fernando [Alonso] e o Michael [Schumacher] e foi o que fiz quando cheguei. Certamente não esperava a queda de performance que tive em 2009 e não imaginava que os anos seguintes seriam tão ruins. Na minha carreira sempre estive na frente, sempre tive um carro competitivo. Tem sido interessante, não perfeito, mas tive sorte de ficar na F-1 e ter as vitórias que tive, de poder mudar de equipe e continuar sendo bem sucedido.

Você disse que deixou a McLaren porque queria mais liberdade. Conseguiu isso?
Sim, na Mercedes tenho mais liberdade. Mas na verdade não é necessariamente liberdade, mas lá tínhamos muito mais parceiros, algo como 45, e se você pensar que tínhamos que fazer ao menos cinco aparições para cada um deles... é insano. Já aqui temos menos e a mentalidade é diferente. Não precisamos dos parceiros para conseguir dinheiro, recebemos da Mercedes e da Petronas, não dos parceiros. O time entende que os pilotos precisam chegar descansados, prontos e em forma, é uma mentalidade um pouco diferente e que se adapta melhor a mim.

Quão frustrante é estar tão longe da disputa pelo título?
Não diria frustrante, é interessante, pois temos tantos grandes pilotos que já passaram pela categoria e nem chegaram a disputar o título. Alguns passaram e nunca tiveram um carro como eu tive em 2008 ou como o Sebastian tem agora. E temos pilotos que tinham potencial e nunca vingaram. Você nunca sabe como vai ser no futuro. O Fernando pode se aposentar sem nunca mais vencido outro título, o que é estranho, porque ele é um excelente piloto. Mas faz parte do esporte, você tem que mudar sua mentalidade e saber que quando tem a chance de lutar pelo campeonato, tem que agarrá-la com as duas mãos.

Quando decidiu trocar de time estava pensando mais no ano que vem, com a volta dos motores turbo? O que conseguiu neste ano foi um de bônus?
Quando tomei minha decisão sabia para onde estávamos indo, o que o time faria. Estou com a Mercedes há tanto tempo que sabia que estava indo pelo caminho certo. Tinha toneladas de coisas que tinha de pensar. E estou orgulhoso de ter tomado esta decisão, porque até mesmo minha família falou que eu deveria ficar na McLaren. Não sei como vão ser as coisas, mas estou aprendendo bastante. Mas o objetivo é treinar como nunca nesta pré-temporada e estar no auge da forma no ano que vem, não só física como mentalmente e espero ter um dos melhores carros nas mãos. Na verdade não queria ter o melhor carro disparado, queria estar no mesmo nível dos outros para lutar de igual para igual e vencer porque sou melhor piloto e não porque tenho o melhor carro.

Você está gravando um disco?
Já tenho o suficiente para fazer um disco. Eu toco guitarra, faço 40% dos meus sons e ouço a batida e escrevo sobre o que aquilo sinto. Quem sabe um dia as pessoas não vão ouvir isso nas rádios...

Não acha que se expõe demais às vezes nas redes sociais?
Claro que existem pessoas como Sebastian, por exemplo, que não mostram nada de sua vida particular. Mas tenho a sensação de que as pessoas não conhecem ele tão bem quanto você ou eu, que passamos algum tempo com ele. Quero que as pessoas saibam quem eu sou. Sou muito transparente com meus sentimentos, isso me dá problemas muitas vezes, mas não vou me segurar. Gosto de dividir as experiências com as pessoas. Venho de uma família comum, quero mostrar onde podemos chegar.

Qual a melhor parte de ser milionário?
Acho que poder cuidar da sua família. Pagar férias para todos eles em um lugar diferente ou ajudar a comprar uma casa, ou mandar alguém para a escola. E gosto de ajudar também com instituições.

Seus problemas pessoais influenciaram em suas performances nos últimos anos?
Sem dúvida. Não acho que neste ano tenha me afetado, acho que cresci muito nesta temporada e na parte mais complicada do ano venci na Hungria [tinha acabado de terminar o namoro]. Nos anos anteriores, metade de 2010 e 2011 eu fui um desastre.

É difícil se desligar de problemas com namorada e outras coisas para vir para cá?
Não tenho mais problemas com namorada porque não tenho mais namorada [risos]. Sou agora o solteiro mais cobiçado do paddock. Mas as energias negativas que carregamos não ajudam. Acho que este ano melhorei. Tive momentos bem complicados, mas passei por eles.

E como fez isso? Amadureceu, procurou ajuda?
Amadureci bastante e rezo muito. Nos últimos cinco anos tenho cada vez mais trazido Deus para minha vida e isso tem ajudado bastante.


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