Folha de S. Paulo


De volta da Série B, Atlético-PR, Goiás e Vitória surpreendem na elite

Desde que o Campeonato Brasileiro adotou a fórmula de pontos corridos, em 2003, ficou evidente a dificuldade de permanecerem na elite os clubes que haviam jogado a Série B na temporada anterior. É comum que um deles seja rebaixado logo ou na edição seguinte.

Em 2013, porém, só o vice-lanterna Criciúma luta contra o descenso. Os outros três brigam por vaga na Libertadores.

Atlético Paranaense, Goiás e Vitória ocupam, nesta ordem, a quarta, a quinta e a sexta posições. Nunca tantos times oriundos da segunda divisão estiveram tão bem.

Atleticanos e alviverdes disputam a semifinal da Copa do Brasil, respectivamente, contra Grêmio e Flamengo.

Divulgação-7.out.2013/Atlético Paranaense
Lance do jogo entre Goiás e Atlético Paranaense, em Goiânia
Lance do jogo entre Goiás e Atlético Paranaense, em Goiânia, pelo Brasileiro

"Os três clubes possuem boa estrutura física, com centro de treinamento, revelam jogadores das categorias de base e conseguiram montar elencos qualificados, mesmo sem ter a arrecadação de clubes como Corinthians, Flamengo e São Paulo. As comissões técnicas souberam aproveitar essas condições favoráveis", afirmou à Folha o técnico do Vitória, Ney Franco.

Corintianos e flamenguistas embolsam mais de R$ 100 milhões, cada um, somente com direitos de transmissão do Nacional, enquanto Atlético-PR, Goiás e Vitória, que também estavam entre os 20 integrantes do Clube dos 13, não superam o patamar de R$ 35 milhões.

O Criciúma, que não fazia parte do grupo, recebe aproximadamente a metade desse valor em 2013. No ano passado, sua fatia era de R$ 1,8 milhão.

Ao contrário de anos anteriores, quando as cotas de TV eram reduzidas em 50% e até 25% no caso de equipes que eram rebaixadas, os membros do C13 passaram a receber a verba integral a partir do contrato assinado em 2011, mesmo fora da Série A.

Ou seja, tinham dinheiro suficiente para montar equipes fortes na segunda divisão. Atlético-PR, Goiás e Vitória fizeram isso.

Ao contrário do Criciúma, que reformulou seu elenco para esta temporada, o trio manteve seus times, pois já tinham na Série B jogadores com currículo de primeira divisão.

Julia Chequer-5.jul.2013/Folhapress
O técnico do Vitória, Ney Franco
O técnico do Vitória, Ney Franco

O Vitória começou o Brasileiro de 2013 com sete titulares remanescentes do ano anterior. Um dos jogadores que saíram foi William, atual vice-artilheiro da elite pela Ponte Preta.

"O elenco é qualificado, aplicado taticamente, e tem boas opções para cada posição", avaliou Ney Franco, que está há 14 rodadas no campeão baiano.

O Goiás perdeu apenas dois titulares: o lateral esquerdo Egídio e o meia-atacante Ricardo Goulart, que agora atuam no líder Cruzeiro.

"Quando montamos o time para a Série B, buscamos um perfil de Série A. Foi fundamental para, após conquistar o acesso, já ter uma base. Mas procuramos peças para qualificar o grupo e tentamos não perder atletas", disse o treinador Enderson Moreira, do bicampeão goiano.

"Além disso, a gente tem jogado no mesmo sistema [tático] há quase dois anos, e os jogadores entendem muito bem, têm total noção sobre isso", acrescentou.

Os atleticanos também só reforçaram sua espinhal dorsal. E optaram por uma preparação inusitada. Enquanto uma equipe sub-23 disputava o Estadual, o time principal excursionava no exterior e teve uma pré-temporada de quase três meses.

"A campanha não é surpreendente, nossa preparação no início do ano ajudou muito. Foi preponderante para ter uma arrancada boa. A equipe se poupou para não jogar entre 60 e 70 partidas no ano. Nosso planejamento foi feito para não estarmos fatigados e não termos problemas de lesão neste segundo turno", disse o gerente de futebol Antonio Lopes.

O treinador Vagner Mancini, que estreou na oitava rodada, admitiu que inicialmente a prioridade era sair da zona de rebaixamento.

"Houve um encaixe muito grande. Os jogadores abraçaram nosso discurso. Começamos a jogar com uma postura diferente, com mais marcação e jogando em velocidade. Subimos de produção e tivemos uma sequência de vitória", contou.

Campeões em 2001, os rubro-negros do Paraná embalaram com duas séries de quatro vitórias.

HISTÓRIA

Em quase todos os Campeonatos Brasileiros por pontos corridos, um clube oriundo da segunda divisão caiu na sua reaparição no escalão de cima.

O Fortaleza retornou à Série A em 2003 e ruiu novamente. O Criciúma foi 14º, mas não resistiu no ano seguinte.

O Palmeiras ficou na quarta posição em 2004. O Botafogo salvou-se na derradeira partida, a um ponto do rebaixamento.

Em 2005, coube ao Brasiliense a lanterna. O Fortaleza terminou como 13º, mas desabou na temporada posterior.

O Grêmio foi terceiro em 2006. O Santa Cruz, último.

Assim como o América-RN em 2007. De volta, Náutico e Sport foram rebaixados no Brasileiro seguinte. O Atlético-MG ocupou o oitavo lugar.

Em 2008, Ipatinga e Portuguesa ficaram nas últimas posições. O Vitória foi décimo. O Coritiba, nono, mas acabou degolado na outra temporada.

Antepenúltimo, o Santo André caiu em 2009. O Barueri, 11º, não escapou da degola no campeonato seguinte. O Corinthians foi 10º. O Avaí, sexto.

Em 2010, o Guarani foi outro a ter vida breve na elite e desceu mais uma vez. O Atlético Goianiense evitou a queda na última rodada, mas caiu no ano posterior, junto com o Ceará, 12º. O Vasco penou, mas alojou-se na 11ª colocação.

O América-MG amargou a vice-lanterna de 2011. O Bahia correu risco até o penúltimo jogo e continuou lutando contra o descenso nas temporadas seguintes. O Coritiba foi oitavo. O Figueirense, sétimo.

Em 2012, o Sport desceu de novo. O Náutico ficou no 12º posto, mas está caindo na atual edição. Portuguesa, 16ª, e Ponte Preta, 14ª, escaparam daquela vez, mas agora lutam para não regressar à Série B.

Junior Lago-8.set.2013/UOL
O volante Elicarlos, do quase rebaixado Náutico, dá bicicleta no Pacaembu
O volante Elicarlos, do quase rebaixado Náutico, dá bicicleta no Pacaembu

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