Folha de S. Paulo


Cielo nada por clube modesto e volta ao passado

"Agora, antes dos 50 m livre, eu estava ali do lado e me emocionei quando ouvi anunciarem 'Cesar Cielo, do Clube de Campo de Piracicaba'. Isso é gostoso demais."
Emoção para Reinaldo Rosa, técnico da equipe, que chega a embargar a voz. Mas um cenário estranho, inusitado, provocado pela atual situação da natação brasileira.

Com a queda do investimento nas equipes de Flamengo e Corinthians, grandes investidores das últimas temporadas, Cielo não encontrou um clube disposto a pagar seu salário, estimado em R$ 80 mil mensais.

Satiro Sodré/Divulgação/CBDA
Cielo pula na piscina na prova dos 50 m do Troféu Maria Lenk
Cielo pula na piscina na prova dos 50 m do Troféu Maria Lenk

Como precisava ser inscrito por alguma agremiação para o Troféu Maria Lenk, nesta semana, recorreu ao passado: compete pelo Clube de Campo de Piracicaba, no qual treinou dos 12 aos 16 anos.

Recebe um cachê simbólico. Pesaram mais para ele a proximidade de Santa Bárbara d'Oeste, sua cidade natal --27 km--, e o fato de nadar pelo clube que o revelou.

"Voltei para casa. Está sendo curioso, diferente. É legal, porque conversamos bastante, lembramos de coisas que já vivemos... É uma relação de carinho, mais afetiva mesmo", diz o nadador, dono de três medalhas olímpicas e de quatro ouros em Mundiais.

"Quem sabe depois acertamos algo. Mas, por enquanto, é só para o Maria Lenk."

E é, como seus ganhos nesta semana, simbólico.

Antes da competição, seletiva para o Mundial de Barcelona, em julho, o astro não treinou em Piracicaba. O Clube de Campo tem só uma piscina curta, de 25 m, e ele preferiu continuar no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em São Paulo --ontem, Cielo obteve o índice dos 50 m livre e levou o ouro.

No Rio, está em um hotel diferente do escolhido pelo clube, utiliza transporte próprio, segue sua rotina de alimentação e conta com as orientações do seu técnico, o americano Scott Goodrich.

Além dele, apenas outros três atletas competem por Piracicaba. Entre eles, Luisa Braga, 15, a caçula do grupo e estreante no principal torneio da natação brasileira.

"É bem diferente ter um cara como ele na equipe. Dá mais motivação, dá mais inspiração. Tudo o que ele me falou, as dicas que deu, vou guardar para sempre", diz.

Questionada sobre ser colega do ídolo, disse não ter pedido autógrafo. Ainda.

E revela o motivo: "Ah, não. Eu até queria, mas fiquei com vergonha de pedir".


Endereço da página:

Links no texto: