Folha de S. Paulo


Novo presidente tenta conter lado torcedor para reerguer o Palmeiras

Avisem os ex-presidentes do Palmeiras Carlos Facchina, Mustafá Contursi, Affonso Della Monica, Luiz Gonzaga Belluzzo e Arnaldo Tirone: o novo mandatário do clube não fala italiano e prefere sushi a macarrão.

O descendente de portugueses Paulo Nobre rompeu na eleição da última segunda-feira uma hegemonia de cartolas da colônia que fundou o Palestra Itália.

Aos 44 anos, o presidente palmeirense mais novo desde 1932 prometeu profissionalizar a administração e acabar com a "ópera bufa" (drama cômico) que marcou as últimas gestões do clube.

Rubens Cavallari - 21.jan.13/Folhapress
O novo presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, durante entrevista
O novo presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, durante entrevista

"Quero trazer minha experiência profissional para dentro do clube", diz o advogado formado na PUC-SP, que enriqueceu negociando ações no mercado financeiro.

Solteiro e sem filhos, ele é acionista do banco Itaú e, em 2012, adquiriu 1.639.899 ações da Telebras, o que rendeu participação relevante na empresa do governo federal.

SAUDOSISMO

O primeiro ato de Nobre no comando do clube foi a contratação de José Carlos Brunoro, o homem forte do futebol na vitoriosa parceria do Palmeiras com a Parmalat, que durou de 1992 a 2000.

Ele será o diretor-executivo, cargo que aparece abaixo apenas do presidente na nova hierarquia alviverde. Vai comandar tudo, menos o setor financeiro, que será tocado por um profissional oriundo de um banco.

Além do discurso do profissionalismo, a volta de Brunoro mexe com o sentimento saudosista de Nobre. Ele agradece ao dirigente o fim do jejum de títulos que marcou sua juventude.

"Que palmeirense não se lembra daquele 12 de junho de 1993?", indaga o cartola, que tem em seu sítio na Granja Viana (SP) um pôster do ídolo Evair, herói do título paulista sobre o Corinthians.

José Mendez/Efe
Paulo Nobre observa seu Mini após um acidente
Paulo Nobre observa seu Mini após um acidente

"Se somar Pelé e Maradona, não dá meio Evair. Foi o melhor de todos os tempos", diz Nobre, que leva a camisa 9 do ex-centroavante e um dos mais de mil porquinhos da coleção coleção que possui a todas as finais que o Palmeiras disputa.

INFERNO VERDE

A situação encontrada pelo cartola no Palmeiras lembra o início de sua militância fanática, nos anos 80. "Vim da arquibancada", orgulha-se. "Era de uma torcida chamada Inferno Verde".

Ele se tornou sócio do Palmeiras em 1983, quando recebeu a ficha de filiação das mãos de Marco Polo Del Nero, atual presidente da Federação Paulista de Futebol e vice da CBF. O cartola é conselheiro do clube e pai de uma colega de escola de Nobre.

Trinta anos depois, Nobre bateu nesta semana à porta de Del Nero pedindo ajuda para tirar o clube da crise --a dívida supera os R$ 200 milhões-- e recolocar o time na elite do futebol nacional --caiu para a Série B em 2012.

VERDES ESCUROS

Não fosse a difícil situação que o Palmeiras atravessa, talvez o sonho de Nobre de se tornar presidente do clube fosse adiado novamente. Em 2011, ele perdeu para Arnaldo Tirone, que desistiu de tentar a reeleição após a queda para a Série B.

Nobre é de uma pequena corrente política, a Verdes Escuros, criada há cerca de dez anos quando ele mandou fazer o terno usado no dia da eleição (verde escuro, com o escudo do clube), que usa com uma das 30 gravatas de porquinho que possui.

Por isso, teve de pedir ajuda aos aliados do ex-presidente Mustafá Contursi para conseguir derrotar Décio Perin no pleito de segunda. Agora, Nobre diz que o desafio como cartola é conter seu lado torcedor, que leva até para seu hobby --ele participa de ralis e tem um pequeno circuito em seu sítio.

Desde 2000, Nobre compete pela equipe que criou, a "Palmeirinha Rally", cujo símbolo é um porquinho. O nome Palmeirinha --que virou apelido de Nobre-- vem do primeiro time que ele montou, em 1975, aos sete anos, com os amigos da Granja Viana, em São Paulo. As peladas ainda acontecem em seu sítio, todas as segundas.


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