Folha de S. Paulo


Chocolate se envolve em polêmica por supostos efeitos emagrecedores

Depois de ter sido promovido a "superalimento" por suas propriedades antioxidantes, o chocolate se envolveu em polêmicas nas últimas semanas graças a divulgação de duas notícias.

Primeiro, revelou-se que um trabalho provando supostos efeitos emagrecedores do chocolate não passava de uma "pegadinha". Um jornalista fingiu ser pesquisador e participou de um estudo falso, feito para testar se a imprensa mundial acreditaria ou não na boa notícia.

Se da primeira vez não passava de uma brincadeira, agora uma pesquisa séria mostrou relação entre o consumo de até 100 g de chocolate por dia com um menor risco de ter doença cardiovascular e menor IMC (índice de massa corporal).

Editoria de Arte/Folhapress
Chocolate

Será que finalmente os chocólatras têm o aval da ciência?

O estudo "verdadeiro" foi publicado na última segunda-feira na revista britânica "Heart" e analisou dados de mais de 21 mil pessoas, coletados durante 12 anos.

Nesse período, os participantes foram monitorados e preencheram questionários sobre hábito alimentar e consumo de chocolate.

Resultado: aquelas pessoas que disseram comer mais o doce também tinham menor IMC e menor pressão arterial. Comparando com quem afirmou evitar a guloseima, o grupo chocólatra teve um risco 23% menor de ter infarto e 25% menor de morte associada a doença cardiovascular.

Além disso, quem comia mais o doce também era mais jovem, tinha uma dieta mais calórica e fazia mais exercícios.

Uma análise rápida dos resultados pode sugerir que chocolate emagrece. Mas, segundo os próprios pesquisadores –coordenados por Chun Shing Kwok, da Universidade de Aberdeen, na Escócia–, os resultados não mostram isso.

Em vez disso, o trabalho deixa claro que não é preciso parar de comer a guloseima para reduzir o risco cardíaco.

CAUSA E EFEITO

O estudo não bate o martelo a favor do chocolate porque falta uma relação entre causa e efeito.

"Não deram doce para as pessoas e elas emagreceram. O grupo que consumia mais chocolate também pode ter tido outros hábitos que fizeram diferença, como fazer mais exercício", diz Bruno Caramelli, cardiologista do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP).

Para o endocrinologista Márcio Mancini, concluir que chocolate emagrece é o mesmo que dizer que adoçante engorda porque gordos usam.

"É provável que os mais gordos, que tem maior risco, já comam menos. Ou digam que comem menos. Obesos geralmente subestimam ou omitem alimentos mais calóricos em questionários", afirma.

De acordo com Caramelli, já está provado que até 100 gramas de chocolate amargo por dia reduz o colesterol ruim (LDL).

Os flavonoides presentes no alimento, por terem propriedades antioxidantes, ajudam a diminuir o risco de desenvolver diabetes e hipertensão, segundo o endocrinologista Bruno Halpern, da Abeso (associação de estudo da obesidade).

Mas ele alerta: não é todo chocolate nem qualquer quantidade que faz bem. Tem que ser do tipo amargo (mais de 45% de cacau) e em pequenas porções, porque é um alimento calórico (100 g tem, em média, 500 calorias).

"Ajuda se você não comer demais e engordar. Nesse caso, os efeitos benéficos do alimento serão menores do que os malefícios do ganho de peso."

Para a nutricionista Fernanda Pisciolaro, comer moderadamente em vez de cortar o doce do cardápio pode ajudar a evitar episódios de compulsão. "O indicado seria de uma a duas porções por dia, em torno de 40 gramas cada porção."


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