Folha de S. Paulo


Paciente que recebeu pênis em transplante já faz sexo, diz cientista

Seguindo a rápida tendência de ampliação no número de órgãos humanos passíveis de transplante, agora foi a vez de um pênis de um doador ser inserido em um outro homem.

O doador, no caso, era um cadáver. O beneficiado foi um homem de 21 anos, operado na Universidade Stellenbosch (África do Sul).

Em 2010, foi feito o primeiro transplante total de face. Em 2011, de duas pernas. Em 2014, de útero.

Não foi a primeira tentativa de transplantar um pênis, porém. Em 2006, um chinês de 44 anos recebeu o órgão de um cadáver. No entanto, ele alegou não ter se acostumado e disse estar infeliz, o que fez com que pedisse para ter o pênis removido.

Por isso, mesmo não tendo trabalhado na primeira tentativa, os sul-africanos tiveram cautela antes de declarar o seu paciente o primeiro caso bem-sucedido de transplante de pênis. Só agora eles anunciaram a cirurgia, feita há três meses. Ao apresentar os resultados, eles ressaltaram que o paciente já está sexualmente ativo.

O homem, cujo nome não foi divulgado, tinha perdido a maior parte do seu pênis original (só restavam 2 cm) em decorrência de uma infecção seguida de uma gangrena após um ritual de circuncisão, que ocorreu há três anos.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

A expectativa é que outros nove homens passem pelo procedimento, ainda experimental, em breve. A operação durou 9 horas. A cirurgia envolve a religação de nervos e microcirurgia vascular (religar pequenas veias e artérias).

"Pacientes muito jovens se sentem destruídos quando perdem o pênis", diz André van der Merwe, chefe do departamento de andrologia da Universidade de Stellenbosch, que chefiou a equipe do transplante.

De qualquer forma, segundo Antônio de Moraes Jr., da Sociedade Brasileira de Urologia, é cedo para comemorar.

Ainda não há, por exemplo, nenhum consenso médico sobre as diretrizes a serem seguidas. No caso africano, por exemplo, foram receitados os mesmos medicamentos de quando são feitos transplantes de mão ou de face.

Além disso, a rejeição do órgão ainda pode causar preocupação. O paciente terá de tomar as drogas por toda a vida.

O aspecto psicológico também foi levado em conta. "O paciente aceitou o pênis como se fosse dele", disse Merwe. "Ele me disse que não pensa sobre o fato de que o pênis pertenceu a outra pessoa, exatamente o que queríamos."

"Cosmeticamente, conseguimos uma cor que combinava bem. Obviamente transplantamos um pênis normal e saudável e as ereções que o paciente tem são muito boas." A raça do paciente, no entanto, não foi divulgada.

No Brasil, mais de mil pênis são amputados ao ano, majoritariamente por causa do câncer. Tais pacientes poderiam ser beneficiados.

A grande novidade desse tipo de cirurgia é o fato de o órgão ser proveniente de outra pessoa. O que já é comum no país é o autotransplante, quando o órgão é removido e reimplantado –por causa de um acidente, por exemplo.

Além disso, o país realiza procedimentos contra disfunção erétil. Se medicamentos como o Viagra não funcionam e o paciente não consegue ereções nem com injeções autoaplicáveis de substâncias como a prostaglandina, que provocam ereções, há próteses disponíveis, inseridas por dentro do pênis.

Os dois principais tipos são a semirrígida e a inflável. A semirrígida deixa o pênis permanentemente ereto. Já a inflável promove a ereção (e a "queda") de acordo com o comando do paciente.


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