Folha de S. Paulo


Radicais brecam fim da greve de professores em São Paulo

Um grupo de jovens, sem vinculação sindical, que rejeita partidos e que participou das manifestações de junho de 2013 será o principal obstáculo para a direção do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), que quer encerrar a greve da categoria na assembleia desta sexta (12).

Os professores vão se reunir às 14h no vão-livre do Museu de Artes de São Paulo (Masp) para decidir se continuam ou não com a mais longa paralisação da história da categoria, que nesta sexta completa 89 dias.
Os professores reivindicam, entre outras coisas, reajuste salarial de 75,33%.

O grupo de jovens professores independentes, apelidados de "autonomistas", está acampado na praça da República, no centro da capital, em frente à sede da Secretaria da Educação.

"Queremos que a greve vá até o fim. Depois de 90 dias ainda não conquistamos nada", diz Karina Barros, 35, que dá aulas na cidade de Várzea Paulista (a 54 km de São Paulo) desde 2010.

Zanone Fraissat/Folhapress
A professora Karina Barros, 35, que integra o grupo de
A professora Karina Barros, 35, que integra o grupo de "autonomistas", no acampamento no centro

Karina veio para São Paulo com o marido, também professor da rede estadual, e deixou as duas filhas em Jundiaí aos cuidados de uma irmã. Os dois estão há três dias dormindo em uma barraca. Karina participou das manifestações de junho de 2013.

"Eles (os autonomistas) são muito aguerridos. Não está no horizonte deles acabar com a greve", reconhece o dirigente da Apeoesp Jorge Paz, filiado ao PSOL.

"Tudo aconteceu com a proposta do fim da paralisação. Como a greve estava esvaziada, esses grupos menores ganharam força", diz ele.

A Apeoesp, liderada pela petista Maria Izabel Noronha, a Bebel, quer o fim da greve, mas com um calendário de protestos. Um grupo de militantes do PSOL e do PSTU quer só o fim do movimento. Já os autonomistas não abrem mão da paralisação.

Fernando, que quer ter o sobrenome preservado por medo de represália, diz que não há organização hierárquica entre os autonomistas.

"A nossa estrutura é horizontal. Decidimos tudo de maneira conjunta", diz o professor de 25 anos, que há cinco dá aulas no extremo sul da capital. Ele não é sindicalizado e nem filiado a partido.

Os autonomistas rejeitam aliança, inclusive com o Partido da Causa Operária (PCO), opositor da direção da Apeoesp e contra o fim da greve.

Richard Araújo, dirigente do sindicato e filiado ao PSTU, resume o impasse. "Nós e os autonomistas temos diferenças em relação ao que é possível a greve conquistar", diz Araújo. "É importante decidir coletivamente o que fazer daqui para a frente."

A presidente da Apeoesp prevê discussões acaloradas. "Os autonomistas não querem negociação. Eles gritam para mim: radicaliza, Bebel!", diz. A autonomista Karina concorda que não será fácil. "Somos a resistência."


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