Folha de S. Paulo


Curso de inglês na escola era ruim, diz aluno de medicina sem fluência

Roni Burlina, 21, quer fazer um intercâmbio de um ano na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais prestigiadas do mundo.

Ele cursa o terceiro ano da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a melhor do país, segundo o Ranking Universitário Folha.

O estudante pleiteará vaga no programa Ciência sem Fronteiras, mas tem um obstáculo à sua frente: o inglês.

A falta de fluência no idioma tem sido uma preocupação da faculdade.

Egresso da rede pública, Burlina diz que o curso na escola era "meia boca" e, por mais que entenda alguma coisa, "para falar, é difícil".

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Roni Burlina, 21, que tenta superar dificuldade no inglês para fazer intercâmbio nos EUA
Roni Burlina, 21, que tenta superar dificuldade no inglês para fazer intercâmbio nos EUA

O aspecto oral não foi testado pela Fuvest. Beneficiário do Inclusp, programa de inclusão da USP que concede bônus no vestibular, o estudante diz que gabaritou a parte de inglês da prova.

"Era bem basiquinho. Os enunciados são em inglês, mas as perguntas e as respostas, em português", lembra.

A seleção de Harvard será mais difícil. Professores da universidade virão ao Brasil para entrevistar os quase 30 candidatos da faculdade e selecionarão apenas dez.

Roni se prepara como pode. Faz curso de inglês on-line, pede as cartas de apresentação de veteranos para usar como referência e treina a parte oral com amigos.

Seu colega do quarto ano e igualmente beneficiário do Inclusp, Warley Izumi, 23, está com outro foco.

Ele quer se graduar e começar a atuar como cirurgião. "Não quero seguir carreira muito científica", conta o estudante. "Minha especialização é praticamente técnica, menos teórica."

Warley fez o ensino fundamental em escola particular e o ensino médio na pública. Em ambas estudou inglês e diz que se vira. Quando tem algum termo técnico que não entende, "é só jogar no dicionário", afirma. Estudar além disso não é de seu interesse.

GOOGLE TRADUTOR

Quando estudantes que não se dedicam a estudar inglês para fins científicos decidem publicar artigos na "Revista de Medicina" da USP, os editores da publicação dizem que percebem rapidamente.

Gustavo Gameiro, 19, e Klára Winstanley, 19, dizem que os textos parecem saídos do Google Tradutor. As frases nem sempre têm coerência ou objetividade.

A procura pela disciplina optativa de redação de artigos científicos em inglês, "infelizmente, não é tão grande", diz Gustavo.

O resultado é a recusa frequente de artigos pela revista. "Você acaba perdendo trabalhos muito bons, porque não tinham o padrão da linguagem, ainda que tivessem [dentro do padrão] no conteúdo", diz o professor Luiz Fernando Silva, membro do conselho consultivo da revista.

"A pesquisa começa na ideia e termina na publicação", diz Silva. O médico que não conseguir publicar em revistas respeitadas dificilmente será chamado para congressos e pode ficar apartado da comunidade científica internacional, diz.


Endereço da página:

Links no texto: