Folha de S. Paulo


Alunos da rede pública saem pela primeira vez do Brasil

Vira e mexe Adam Smith cola lá em Guaianases, Truffaut dá um rolê em Interlagos, e Almodóvar aparece na "perifa". Nos próximos 20 dias, porém, esse fluxo vai se inverter.

Desde sexta-feira (28), 219 adolescentes começaram a embarcar rumo à Europa. São alunos de cursos de línguas mantidos pelo Estado.

Escolhidos entre mais de 5.000 concorrentes, vão atrás de uma ferramenta que mantenha aberta a eles uma janela para o mundo.

Jorge Araujo/Folhapress
De boné preto, Deivid Deniz, 17, faz check-in com mais 218 alunos no aeroporto de Cumbica
De boné preto, Deivid Deniz, 17, faz check-in com mais 218 alunos no aeroporto de Cumbica

Intercambista de primeira viagem, Deivid Cruz Deniz, 17, nunca saiu do país, 94% de seus colegas também não. Mais do que isso -ou menos- ele nem mesmo conhece o que há para além da metrópole.

Londres é a terceira cidade que vai conhecer-em toda a vida. A segunda foi Cotia, na Grande São Paulo. Nunca "rolou" mais do que isso.

O que "rolou" mesmo foi a vontade de aprender inglês e a ideia fixa de cursar filosofia. Do primeiro desejo, resultou a viagem a Londres. Do segundo, ainda é cedo para saber.

Na mala do menino que mora com a mãe e o irmão em Guainases, na zona leste, alguns de seus favoritos: os filósofos Adam Smith e Friedrich Nietzsche.

Muito para seus 17 anos? "Comecei com o 'Mundo de Sofia'", desconversa ele, que diz que a experiência deve mudar sua vida.

Da mesma turma, faz parte Stefany Rosário Santana, 17, apaixonada pelo universo de François Truffaut e por diretores franceses contemporâneos. A atração, diz ela, nasceu nas aulas de francês.

Um dos primeiros filmes foi "Entre os muros da Escola", de Laurent Cantet. "Tem muito a ver com o que a gente vive", diz. "O final então..."

Daí a outros cineastas foi um pulo, diz a menina que embarca neste sábado (29) para Nice, na França.

Os cursos que esses adolescentes frequentam nos Cursos de Estudos de Línguas existem desde 1988 e funcionam nas próprias escolas estaduais, nos contraturnos.

Coordenadora do centro, Valéria Tarantello diz que são sete idiomas para alunos da rede: inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, japonês e mandarim. Para mais informações: educacao.sp.gov.br/centro-estudo-linguas/.


Endereço da página:

Links no texto: