Folha de S. Paulo


Adolescente conheceu a droga aos 12 anos, em Gavião Peixoto

Aos 12 anos, Júlia –os nomes são fictícios para preservar a identidade dos menores– começou a usar bebidas alcoólicas e logo conheceu drogas ilícitas como a cocaína, a maconha e o crack.

Júlia, hoje com 15 anos, ficava sozinha durante o dia com os dois irmãos, já que a mãe trabalhava na lavoura da cana-de-açúcar na zona rural de Gavião Peixoto (a 306 km de São Paulo), cidade com 4.000 habitantes.

Júlia passou a ficar agressiva, deixou de ir à escola e começou a praticar pequenos furtos dentro e fora de casa para alimentar o vício.

"Os vizinhos me cobravam em casa. Tinha de trabalhar dobrado para pagar o prejuízo", disse Maria, mãe de Júlia, que hoje trabalha como catadora de recicláveis e ganha R$ 600 por mês.

Há um mês, a jovem deixou a segunda internação compulsória. Ela passou cinco meses em uma clínica em Descalvado. "Hoje tenho um pouco da minha filha que eu havia perdido", disse a mãe.

Atualmente, Maria e Júlia participam de um grupo de apoio no Cras (Centro de Referência da Assistência Social) de Gavião Peixoto.

No grupo se reúnem outras adolescentes com o mesmo problema e perfil social.

Ansiosa, esfregando os braços freneticamente e mexendo no celular, Natália, 15, faz parte do grupo de apoio. Ela esteve internada em 2014, mas dois meses depois de ter alta voltou a beber.

As reuniões do grupo são realizadas toda semana e exigem a presença dos pais.

"Muitas vezes não há estrutura familiar. Então, eles se refugiam nas drogas", disse a secretária da Assistência Social de Gavião Peixoto, Elaine Aparecida de Castro.

Os adolescentes são mais suscetíveis aos efeitos da droga, segundo Erikson Felipe Furtado, médico responsável pelo ambulatório de álcool e drogas do Hospital das Clínicas da USP Ribeirão.

"O cérebro ainda não está totalmente formado nesta fase, o que deixa o adolescente mais vulnerável", disse.

O tratamento também pode ser mais complexo para os adolescentes. "De um modo geral, é mais difícil envolvê-los no tratamento", disse.


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