Folha de S. Paulo


Sistema viário de Ribeirão Preto (SP) não acompanha aumento da frota

Enquanto a população de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) cresceu 29% em 12 anos, a frota de veículos apresentou aumento de 103%, em um ritmo muito superior ao apresentado pelo avanço da infraestrutura urbana.

A saturação nas vias de Ribeirão Preto fica ainda mais evidente se for incluída na frota local a estimativa de aumento de 5% a 20% na frota de veículos de cidades vizinhas e de outros Estados. O índice depende da época do ano e do horário diário.

De acordo com o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), em 2003 -quando o órgão passou a contabilizar a frota por município-, Ribeirão tinha 235.338 veículos. Em abril deste ano, alcançou 477.646 unidades.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2003, a cidade tinha 505 mil habitantes. A estimativa para este ano é de 649 mil pessoas.

Com esse contingente extra da região e de Estados como Minas Gerais, atraído pelo polo comercial e de serviços, o número de veículos na cidade pode chegar a 525 mil.

Só com carros licenciados em Ribeirão, a cidade tem a 17ª maior frota de veículos do país. Contabilizando somente motocicletas, ocupa a 13ª colocação nacional.

Proporcionalmente, a cidade tem frota superior à de São Paulo, por exemplo. Enquanto na capital há um veículo para cada 1,6 habitante, em Ribeirão a média é de um veículo para cada 1,3.

Segundo a Transerp, em 2003 a cidade registrava lentidão apenas na região central em alguns horários, como o início da manhã e o final da tarde. Além disso, avenidas como Francisco Junqueira, Nove de Julho, Independência e Maurilio Biagi eram grandes corredores para o fluxo de carros.

Hoje, a situação é diferente. Essas avenidas não suportam mais a quantidade de veículos e diariamente registram lentidão. Além disso, o congestionamento não se limita mais apenas ao centro, mas também nos bairros.

Nas principais vias de bairros como Campos Elíseos, Ribeirânia e Vila Tibério são registrados diariamente pontos de tráfego lento.

A prefeitura aposta nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal, e no incentivo ao transporte coletivo para melhorar o fluxo de veículos na cidade.

No entanto para especialistas em trânsito apenas essas obras não serão suficientes para desafogar Ribeirão.

Segundo eles, não há cobrança de contrapartida e estudos de impacto para novos empreendimentos na cidade.

"Em uma grande cidade é preciso pensar que qualquer alteração traz reflexos. Por menor que seja a obra, o prédio, uma loja, futuramente ela trará reflexos", afirmou André Lucirton Costa, urbanista e especialista em transportes públicos.

LIBERDADE

Ele afirmou que muitos empreendimentos imobiliários são liberados sem a exigência de obras de infraestrutura viária. "Em dois anos, liberam cinco prédios no mesmo bairro e não há rua que comporte 200 carros a mais de uma só vez", disse.

Entre os exemplos citados pelos especialistas como falta de planejamento estão os bairros Lagoinha e Quintino Facci 2, que receberam diversos imóveis sem nenhuma obra para acesso viário.

"Não adianta fazer ponte, viaduto, túnel. O que ordena o trânsito é planejamento."

O advogado especialista no setor Adhemar Padrão Neto disse que a causa para o sistema viário estar esgotado é, em maior parte, a falta de gestão e planejamento, não o crescimento da frota.

Os dois ressaltam a importância de o município elaborar um Plano Diretor adequado às necessidades -em fevereiro, uma revisão do plano foi rejeitada pela Câmara.

"O Plano Diretor da cidade está na bacia das almas, não é respeitado. E ele é de extrema importância para se ordenar o crescimento da cidade, o que impacta diretamente no trânsito", afirmou Costa.


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