Folha de S. Paulo


Superlotada, Fundação Casa sofre com falta de estrutura em Ribeirão Preto

Superlotação, má gestão e problemas estruturais, como falta até de mangueira de incêndio. A Fundação Casa de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) enfrenta uma situação crítica, de acordo com o Ministério Público.

"Não há nada satisfatório lá dentro", disse o promotor Luís Henrique Pacgnella, da Vara da Infância e Juventude.

Segundo ele, o local tem características de penitenciária: os quartos abrigam até 12 adolescentes, o dobro de sua capacidade total.

A cada 20 dias, a Promotoria faz vistorias nas três unidades do complexo em Ribeirão, que teve recentemente fuga de 40 adolescentes.

Edson Silva - 24.abr.2014/Folhapress
Entrada da Fundação Casa em Ribeirão Preto, alvo de queixas da Promotoria e do sindicato dos funcionários
Entrada da Fundação Casa em Ribeirão Preto, alvo de queixas da Promotoria e de funcionários

De acordo com relatos do Sitraemfa (sindicato que representa os trabalhadores da instituição), há caixas de força com fiação exposta.

Os fios são usados para provocar curtos-circuitos e atear fogo em papéis e cigarros –contrariando a lei antifumo, funcionários da equipe técnica fumam no local e na frente dos jovens.

Para agravar a insegurança, segundo o sindicato, faltam mangueiras de incêndio na Rio Pardo, unidade de onde fugiram 32 adolescentes no último dia 20.

Nos quartos da unidade não há banheiro. Funcionários têm de ficar à disposição, 24 horas por dia, para abrir portas e levar os jovens ao banheiro ou para tomar banho.

Foi ao atender a um pedido de um jovem para ir ao local que funcionários foram rendidos e os garotos conseguiram escapar da fundação.

"A superlotação, a má gestão e a falta de funcionários contribuíram para a fuga", disse o promotor Pacgnella.

Há 390 jovens no complexo de Ribeirão –a capacidade limite, segundo a instituição, que nega a existência dos problemas relatados.

"O número atual de internos é superior ao ideal para promover a ressocialização dos jovens infratores", disse o promotor, baseado no Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo).

Pacagnella defende uma descentralização, com pequenas unidades isoladas em regiões diferentes.

No ano passado, a Vara da Infância e Juventude de Ribeirão determinou que fosse reduzido o número de jovens internados em até 40 para cada uma das três unidades.

O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) confirmou a sentença, mas a fundação recorreu e a ação tramita. Segundo o promotor, o modelo proposto é previsto pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

O juiz da Infância e Juventude de Ribeirão, Paulo César Gentile, afirmou que a lotação é "fora do comum".

"As unidades estão muito cheias. Estamos segurando o adolescente na internação por mais tempo, para tentarmos diminuir a reincidência", afirmou.

OUTRO LADO

A Fundação Casa nega a existência dos problemas relatados por sindicato, Promotoria e Vara da Infância e Juventude de Ribeirão Preto.

Via assessoria, a instituição informou que o complexo de Ribeirão foi reformado e está em bom estado.

"A instituição tem atendido a demanda da região de Ribeirão na execução das medidas socioeducativas, segundo os pedidos realizados pelo Poder Judiciário", afirma nota da fundação.

Já sobre a superlotação de adolescentes, o maior problema do complexo, na avaliação da Promotoria, a instituição afirmou que a capacidade total está sendo utilizada –390 jovens internados.

Segundo a assessoria, o número de jovens por unidade não fere o Sinase, por se tratar de uma recomendação.

Já sobre a ação do promotor Luís Henrique Pacagnella, que prevê a descentralização do complexo, a fundação disse não ter sido notificada.


Endereço da página: