Folha de S. Paulo


Alunos acusam policiais militares de agressão em escola de São Simão (SP)

Uma confusão em frente a uma escola estadual de São Simão (278 km de São Paulo) acabou com a depredação do estabelecimento e um confronto envolvendo a Polícia Militar e alunos, que alegam ter sido agredidos. A PM nega e diz que só agiu para conter o tumulto.

Imagens registradas no momento do confronto mostram policiais puxando os alunos pelos cabelos e agarrando-os pelos braços. Também há uma cena em que um policial segura uma adolescente pelo pescoço.

A suposta agressão contra nove alunos foi denunciada à Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo.

Após pedido do ouvidor Julio Cesar Neves, a Corregedoria da PM decidiu abrir investigação para apurar supostos excessos da polícia. O mesmo pedido foi feito ao Deinter-3 (Departamento de Polícia Judiciária do Interior).

"É triste, lamentável e inaceitável o que aconteceu. As cenas chocam. Os policiais precisam ler o ECA", disse, referindo-se ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Milena Aurea/"A Cidade"
Policiais e estudantes em confronto em frente à escola estadual Capitão Virgílio Garcia, em São Simão
Policiais e estudantes em confronto em frente à escola estadual Capitão Virgílio Garcia, em São Simão

O confronto ocorreu na tarde de anteontem, um dia depois de um aluno do oitavo ano, de 16 anos, ter sido levado à delegacia pela PM por ter ameaçado colegas e professores com um pedaço de pau.

Ele alega ter tido um cartão de memória furtado na escola Capitão Virgílio Garcia.

Na quinta-feira, os nove alunos jogaram pedras na escola, em forma de protesto, contra uma suposta violência policial sofrida pelo adolescente. Vidros de janelas de salas de aula foram quebrados, e cortinas, rasgadas.

"Não foi uma atividade policial comum, e a ação foi testemunhada por alunos e familiares", afirmou Matheus Augusto Ambrósio, advogado do estudante, que disse que levará a denúncia ao comando da PM e à Promotoria.

Para o psicólogo e professor Sergio Kodato, coordenador do Observatório da Violência e Práticas Exemplares da USP Ribeirão, a ação mostra que a polícia não está preparada para lidar com conflitos com adolescentes.

"Chegamos ao fundo do poço. Esses adolescentes sofrem uma criminalização precoce", afirma.

Segundo ele, o comportamento ideal dos policiais seria manter diálogo, sem usar força e algemas. "Essas crianças e adolescentes podem sofrer uma síndrome do estresse pós-traumático."

Devido aos incidentes, a Prefeitura de São Simão contratou oito seguranças patrimoniais para reforçar a vigilância na escola estadual.

Em nota, a Diretoria Regional de Ensino de Ribeirão disse que repudia vandalismo e que a direção da escola apura quais são os alunos envolvidos para tomar as providências baseadas no regimento escolar.

A direção registrou boletim de ocorrência para que a polícia apure o caso.

OUTRO LADO

O comando da Polícia Militar de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) está apurando a conduta dos policiais que se envolveram no confronto com os alunos da escola estadual de São Simão, mas já afirma que não houve excesso na ação.

De acordo com o capitão Maurício Tavares, comandante da 4ª Companhia da PM, as ações foram "tomadas para conter os adolescentes".

Segundo Tavares, os policiais militares tentaram conversar com os estudantes e pediram para que parassem com o ato, mas eles se recusaram a obedecer as ordens e, em seguida, se rebelaram.

Durante o confronto, um dos policiais foi mordido na mão por uma adolescente, de acordo com o capitão.

"Além da agressão física, também houve agressões verbais contra os policiais. Eu estive no local e presenciei o que aconteceu", afirma.

Os nove adolescentes foram encaminhados à delegacia, onde prestaram informações ao delegado de plantão. Eles estavam acompanhados do Conselho Tutelar.

O conselheiro Ricardo Gonçalves afirma que não houve agressões dos policiais.

"Eles tiveram de conter os adolescentes porque estavam depredando a escola. Não constatamos que houve excessos contra eles."

Depois de serem ouvidos pelo delegado, segundo o capitão, os alunos foram liberados com a presença de pais e responsáveis.


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