Aos 20 anos, o jovem locutor Maurício de Campos Bastos demorou para alcançar a cabine 17 do Maracanã naquele 16 de julho. "Devem ter me jogado", brincou 67 anos depois ao recordar a multidão que se reuniu para ver a final da Copa do Mundo de 1950.
Mineiro de Juiz de Fora, o rapaz tinha pouca experiência em rádio quando foi destacado para a glamorosa competição. Não viu o Brasil campeão, já que a seleção perdeu para o Uruguai na final, mas ganhou o título de locutor mais jovem do país.
Novas competições importantes e até uma temporada no Rio de Janeiro vieram depois, embora não tenham impedido Maurício de seguir outros sonhos. Por um período, acumulou as carreiras de locutor e advogado, mas a magistratura acabou ganhando e levando-o para a capital federal no início dos anos 1960.
Na nova cidade, atuou como advogado, juiz do trabalho, vice-presidente e conselheiro da OAB-DF. Mesmo após a descoberta de um câncer, continuava a visitar regularmente o escritório da família -cinco dos nove filhos seguiram a carreira no direito.
Apesar da mudança profissional, continuava apaixonado pelo futebol. Flamenguista, só perdia a fala mansa e feições tranquilas quando o assunto era seu time. Aquele mesmo clube que tirava seu fôlego durante as narrações décadas atrás, ainda o emocionava e, eventualmente, o colocava em discussões. Até e-mails para a direção do Flamengo ele mandava quando algo no time não o agradava.
Morreu dia 10, aos 87 anos, em decorrência do câncer. Deixa a mulher, Cléa, nove filhos, 23 netos e três bisnetos.
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Maurício relembra narração da final da Copa de 1950 em entrevista feita após 67 anos (Arquivo Pessoal)
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