Folha de S. Paulo


Prefeitura de SP põe guarda para fiscalizar entrada da cracolândia

Marlene Bergamo/Folhapress
Guardas municipais vistoriavam pedestres para evitar entrada na cracolândia, no centro
Guardas municipais vistoriavam pedestres para evitar entrada na cracolândia, no centro

Pedestres de passagem pelo perímetro da cracolândia, no centro de São Paulo, passaram a ser revistados um dia após a operação policial do governo Geraldo Alckmin (PSDB) na região -seguida de intervenções da prefeitura.

A gestão João Doria (PSDB) criou barreiras formadas pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) para barrar, principalmente, barracas, carroças e lonas, evitando que os dependentes químicos se instalem novamente no local.

Segundo a prefeitura, a corporação permanecerá no local para evitar a retorno dos usuários de droga. O deputado federal e então candidato Celso Russomanno (PRB) havia proposto tática semelhante durante a campanha municipal para sufocar a venda de drogas na vizinhança.

O Ministério Público decidiu abrir inquérito para investigar a ação realizada pelo governo do Estado e prefeitura na região da cracolândia. O promotor Arthur Pinto Filho, de direitos humanos e saúde pública, disse ter havido pontos contrários ao acordado em reuniões com os dois governos e a Defensoria.

O inquérito vai apurar três principais questões: 1) se houve falta de acolhimento de pessoas que estavam em hotéis do programa Braços Abertos (que foi extinto); 2) a ação da PM de dispersar usuários de drogas (indo além da prisão de traficantes); 3) eventual desvio de função da GCM.

Para Pinto Filho, não estaria nas atribuições da GCM a revista e dispersão de pessoas. Ele afirmou que a retirada das pessoas de hotéis conveniados não é correta. "A prefeitura esta fechando os hotéis e colocando as pessoas para fora; elas estavam em um programa municipal, em contato com agentes de saúde, agora não têm para onde ir."

A assessoria de imprensa da gestão Doria disse que moradores de hotéis do programa Braços Abertos (que atendia dependentes químicos) não foram retirados de hotéis. "Não havia mais hotéis na região do fluxo. Os hotéis fora de lá continuam abertos e atendendo os dependentes", informou.

ATENDIMENTO

Prefeitura e Estado defenderam as ações adotadas e dizem estar agindo para acolhimento dos dependentes. A gestão Doria prometeu a instalação de um centro psicossocial (Caps) na região em uma semana. A ideia é fazer atendimento ambulatorial dos usuários de drogas, segundo Wilson Pollara, secretário municipal da Saúde.

A construção será pré-fabricada, em uma esquina da rua Helvétia. Pollara esteve na região acompanhado do secretário estadual da Saúde, David Uip. Segundo eles, 300 pessoas foram acolhidas, 100 atendidas pelo Recomeço (programa do Estado voltado a dependentes de droga) e 12 internadas voluntariamente.

O promotor disse que, pelas conversas, a polícia deveria "servir para dar suporte para a operação, que seria feita pelos agentes de saúde". A polícia diz que, na sua ação, prendeu 50 suspeitos de tráfico.

Os criminosos, afirma, abasteciam a "feira livre" de drogas na cracolândia e usavam os próprios viciados para enfrentar os policiais. Essa estratégia dos traficantes está registrada em interceptações telefônicas.

O comandante-geral da PM de SP, coronel Nivaldo Cesar Restivo, disse que os policiais usados na região foram ampliados de 120 para 200. Eles ficarão dentro e no entorno da cracolândia. Esse contingente, diz, será empregado no policiamento ostensivo, e não na remoção de usuários.

"Esse efetivo está lá para manter as condições de estabilidade alcançadas no final operação. A atuação da Polícia Militar em relação ao usuário é informar a prefeitura onde há aglomeração de dependentes para que a ação de saúde e ação social seja direcionada para aquela local."

Assim como ocorreu no domingo, nesta segunda viciados também se espalharam em vários pontos do centro.Um desses locais era próximo da Sala São Paulo, na praça Júlio Prestes, e na avenida Duque de Caxias.

Dono de uma lanchonete no local há 30 anos, Nel Saad, 50, afirma que a ação apenas transferiu os problemas. "Se não colocarem em nenhum lugar os viciados, vai ser como tirar da minha casa e colocar na sua", diz. A agente de turismo Denise Santos, 41, está otimista. "Tenho fé que que desta vez melhore. Os clientes não estavam mais vindo."


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