Folha de S. Paulo


Portas arrombadas e onda de roubos assustam jornaleiros em São Paulo

Bancas arrombadas

Desde o início do ano, a história se repetiu em pelo menos 13 bancas de jornal na cidade de São Paulo. Pela manhã, o jornaleiro chega para trabalhar e encontra as portas arrombadas e um prejuízo que pode passar de R$ 20 mil em mercadorias.

Há casos na região central, zonas oeste e sul: Higienópolis, Vila Buarque, República, Santa Cecília, Pinheiros, Vila Mariana e Jabaquara.

A onda preocupa os jornaleiros, que se dizem impotentes diante das poucas alternativas de segurança, ineficazes na maioria dos casos.

Câmeras de segurança são quebradas, novas fechaduras são abertas com chaves especiais, alarmes apresentam defeitos e portas reforçadas são ignoradas pelos ladrões, que chegam a entrar pelo teto, como aconteceu duas vezes na banca de Afrânio Lima, no Jabaquara, zona sul de SP.

"Fica uma sensação ruim. Sabemos que temos que arrumar, mas não dá pra saber se vale a pena investir na segurança para ter prejuízo", diz Lima, que passou por dois arrombamentos e nova tentativa há dois meses. Os ladrões levaram R$ 2.500 em cigarros, fones de ouvido e dinheiro.

Os objetos furtados são sempre os mesmos. Em Pinheiros, na banca de Maurício Winheski, 29, foram R$ 21 mil de prejuízo em cigarros e produtos para fumo, fone de ouvidos, pilhas e troco, além dos gastos com os reparos.

"Eles estão indo atrás do mesmo tipo de produto, usam o mesmo método e abrem a banca em cinco minutos com pé de cabra e lixa. Em 50 anos isso nunca aconteceu com nenhum dos donos", conta.

A banca de Winheski, furtada numa madrugada de março, era equipada com câmeras, mas os ladrões levaram inclusive o gravador.

CHAMAR ATENÇÃO

Outro no prejuízo foi Jailson Lima, 43. Por sorte, poucas mercadorias foram levadas porque o segurança de um restaurante próximo à sua banca, na Vila Mariana, flagrou a ação dos criminosos.

"Não tem como se prevenir. Se você põe uma grade, vão roubar do mesmo jeito. Reforçar a segurança pode até chamar atenção", diz ele, que gasta cerca de R$ 1.800 por mês com alarme e seguro.

Em Higienópolis, bairro nobre da região central, donos de bancas há décadas nos mesmos locais estão assustados com os furtos repentinos.

Na rua Itacolomi, Osvaldino Soares, 68, teve prejuízo de cerca de R$ 3.000 na banca que toca há 24 anos. Além dos objetos de praxe, levaram guarda-chuvas e revistas. Na mesma madrugada de abril, outra banca na rua foi arrombada, e, no mesmo mês, na av. Angélica e em Santa Cecília.

Perto dali, na rua Sergipe, a banca de Manoel de Oliveira de 68 anos foi mais um alvo, com prejuízo de R$ 100. Com medo de aumentar a perda com o estabelecimento fechado, ele não quis ir à delegacia. "Ia ficar o dia todo parado e não ia adiantar nada [registrar o B.O.]."

REGISTROS

Segundo José Antonio Mantovani, presidente do Sindjor (Sindicato dos Jornaleiros) de São Paulo, é compreensível que os jornaleiros não queiram registrar os crimes, mas fundamental que o façam. "Eles trabalham sozinhos nas bancas. Se vão à delegacia, perdem o dia inteiro, é mais prejuízo. Essas pessoas não têm condições de fechar as bancas, e boa parte delas não sabe que pode fazer o B.O. via internet", diz.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) afirma que "irá reorientar o patrulhamento a partir dos relatos da reportagem".

A pasta ressalta a "importância do registro das ocorrências para a apuração dos fatos e consequente responsabilização dos autores" e afirma que os boletins de ocorrência resultam em "maior eficiência no planejamento de rondas preventivas".


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