Folha de S. Paulo


Frederico Pessoa da Silva (1949-2016)

Mortes: Torturado, teve vida marcada pela ditadura

Arquivo pessoal
 Frederico Pessoa da Silva (1949-2016)
Frederico Pessoa da Silva (1949-2016)

Até o fim da vida, Frederico Pessoa precisou tomar remédios para dormir e também para se manter acordado. A tortura a que foi submetido durante a ditadura militar nunca o deixou em paz.

Nascido no Recife, começou a militar logo cedo e, quando mudou-se para o Rio de Janeiro, aos 12, já era membro do Partido Comunista –seu pai, Zé Raymundo, foi um importante líder do Partidão.

Estudou na Escola de Quadros do Partido Comunista da União Soviética no começo dos anos 1970, em Moscou.

Tentou voltar ao Brasil pela fronteira com o Uruguai, mas deparou-se com a divisa fechada. Sem saber o que fazer, bolou um plano: diria que era um estudante que foi a uma festa na Argentina e perdeu os documentos. Para isso, passou dias em bordeis de Buenos Aires. Os militares foram checar a história e acreditaram quando prostitutas portenhas confirmaram que o conheciam.

Para evitar a prisão, recorreu a diferentes codinomes ao longo da vida, como Fernando e Fábio. Mas foi pego em 1975 e preso no Dops. Não bastasse ser torturado, ainda viu a mulher, Eleonora, ser abusada na sua frente –cena que nunca esqueceu.

Ficou dois anos preso. Libertado, passou a atuar como jornalista em sindicatos. Conheceu a segunda esposa em 1985, durante uma manifestação na Cinelândia, no Rio. Era Mércia Pinto Vinhas, que também estudara em Moscou. Com ela, teve Cecília, sua única filha.

Fred morreu no último dia 4, após quatro meses de luta contra um câncer. Deixa, além da filha, enteados, netos e inúmeros amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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