Folha de S. Paulo


Bombeiros acham 3ª vítima de chuvas em SP; asfalto cede em vias da capital

Diego Padgurschi/Folhapress
SAO PAULO, BRASIL - 07-06-2016:Parte do asfalto caiu na avenida Abraao de Morais, bairro da Saude. (Diego Padgurschi /Folhapress - (COTIDIANO)
Asfalto cede e cratera se abre no canteiro central da avenida Abraão de Morais, zona sul de São Paulo

O Corpo de Bombeiros encontrou, nesta terça-feira (7), o corpo de mais uma vítima das fortes chuvas que atingem o Estado de São Paulo. É o terceiro morto encontrado desde o final de semana.

O corpo foi encontrada no bairro Itaim Paulista, na zona leste da capital do Estado. O homem estava desaparecido desde a noite de segunda (6), quando sua casa desabou. Ele foi encontrado por volta das 16h35 nos escombros do imóvel.

Outra pessoa morreu por conta das chuvas que caíram no domingo (5) em Jarinu (a 68 quilômetros da capital). Além disso, 46 pessoas ficaram feridas. A Defesa Civil do Estado instalou um gabinete de crise no município. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi à cidade na segunda-feira e anunciou a abertura de uma linha de crédito especial para auxiliar a recuperação do setor privado.

A terceira morte foi em São Roque, onde a chuva fez estragos semelhantes aos de Jarinu. Ventos de 120 km/h na tarde de segunda deixaram dez feridos e 30 desabrigados.

Árvores de grande porte foram arrancadas do solo e postes de luz tombaram, carros e um caminhão foram arrastados. Os moradores dizem que o vento veio como um redemoinho e durou entre 20 e 40 segundos. O fenômeno foi confirmado por especialistas como um tornado e uma microexplosão –esta ocorreu também no sábado em Campinas e domingo em Jarinu.

Na microexplosão, rajadas de vento em alta velocidade batem no chão e se espalham, como uma bomba.

Microexplosões

O bairro Canguera, às margens da estrada do Vinho, rota turística, foi um dos mais afetados. "Perdi minha propriedade. Tudo por que lutei na minha vida perdi assim, em um assoprão. Essa adega foi construída pelo meu avô em 1946. O trabalho dele, do meu pai, meu, dos meus irmãos está no chão", disse Luiz Gonzaga Godinho, 68.

Foi no local que morreu o pedreiro Ulisses Cipriano de Freitas, 58, que trabalhava para ele construindo um galpão. Segundo Godinho, Freitas saía do galpão quando viu um poste de luz tombado na rua, ficou com medo e voltou. "Foi quando tudo caiu."

Do outro lado da rua, o restaurante Casa da Vovó também ficou destelhado. "Parecia o fim do mundo", disse o dono, Francisco Vieira, 62.

CRATERAS

Na capital paulista, uma cratera se abriu pela manhã na avenida Abraão de Morais, no bairro Saúde, zona sul. Parte do canteiro central cedeu e caiu no córrego do Ipiranga. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) interditou faixas em ambos os sentidos da avenida e orientou os motoristas a fazer a conversão pela avenida Bosque da Saúde.

Na zona norte, outra cratera levou parte da rua Canguira, na Vila Nova Cachoeirinha. O local foi interditado. Ainda na madrugada de terça, um deslizamento de terra bloqueou parte da avenida Professor Francisco Morato, na Vila Sônia (zona oeste). O local já foi liberado.

Transtornos semelhantes foram registrados em Osasco, Barueri, Vargem Grande Paulista (Grande SP) e Mairinque (a 71 km de SP), mas sem feridos.

ALAGAMENTOS

Em Santa Bárbara d'Oeste, 25 famílias ficaram desalojadas após o rio Ribeirão dos Toledos alagar. A forte chuva e as rajadas de vento também deixaram alagados os bairros de Jardim Conceição e Jardim Fartura. Alagamentos e cheia de rios também causaram transtornos em Capivari e Piracicaba.

Pela manhã, a Defesa Civil estadual acionou o plano de contingência da represa Paiva Castro, em Franco da Rocha (a 47 km de São Paulo), que atingiu o limite prudencial, e alertou as prefeituras de Franco da Rocha, Caieiras e Cajamar que as comportas podem ser abertas por risco de transbordamento.

De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), este já é o terceiro junho mais chuvoso desde 1943, início da série histórica do órgão, com 203,8 mm registrados. Só choveu mais em 1983 (220,7 mm) e em 2012 (233,7 mm).

Pelo menos na capital os temporais devem dar uma trégua nos próximos dias. De acordo com o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), a quarta-feira (8) ainda deve começar com nebulosidade e chuviscos, mas o sol aparece no decorrer do dia. As temperaturas devem variar entre 9ºC e 18ºC. Na quinta (9), os termômetros ficam entre 7ºC e 20ºC.

Nesta terça, o CGE registrou a tarde mais fria do ano, com temperatura máxima média de 14ºC na cidade de São Paulo, com bairros da zona sul chegando a 12,3ºC.

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PERGUNTAS E RESPOSTAS:

1. As chuvas de junho estão acima da média em SP?
Sim. A média para o mês é de 50 milímetros, mas nesta terça, em apenas sete dias, o Estado já havia atingido uma marca quatro vezes maior: 203,8 milímetros, segundo o Inmet.

2. O que explica chuvas assim no outono?
Diversos fatores. Uma das causas foram as chamadas correntes de jato: ventos carregados com umidade da região Norte que chegaram ao Sudeste. A entrada da frente fria e a presença de áreas de baixa pressão e ventos em níveis médios da atmosfera também contribuíram para as tempestades.

3. Esse 'tempo maluco' indica um inverno mais rigoroso pela frente?
Não. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as temperaturas nos próximos meses devem ficar dentro do padrão ou até um pouco mais altas. Como SP teve invernos considerados quentes nos últimos anos, porém, é possível que os paulistanos sintam a diferença.

4. Deve cair mais de 5°C em SP nesta semana. Isso pode provocar impactos na saúde?
Sim, a oscilação de temperatura e o frio podem desregular o sistema de proteção do corpo, aumentando o risco de contrair doenças, principalmente a gripe. Pessoas com problemas crônicos (de pulmão, por exemplo) devem ficar atentas a sintomas como falta de ar e secreção pelo nariz ou boca muito espessa, de cor esverdeada ou amarelada.

5. Quais cuidados devo tomar no frio?
Lavar sempre as mãos, evitar lugares fechados com aglomeração, abrir sempre as janelas, se agasalhar de forma a não suar muito nem deixar o organismo gelado, higienizar focos de vírus –como cobertores, mesas e maçanetas– e evitar contato com pessoas que estejam espirrando e tossindo muito.


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