Folha de S. Paulo


Em vez da fé, novos peregrinos são movidos por esporte e comida

Karime Xavier / Folhapress
Peregrino do esporte, o vendedor Thiago Rissi, 31. percorre o mundo para assistir a jogos dos grandes times de futebol
Peregrino do esporte, Thiago Rissi percorre o mundo para assistir a jogos dos grandes times de futebol

Se tradicionalmente a palavra peregrino está ligada a maratonas atrás de símbolos e representações de fé, a modernidade trouxe novos sentidos a ela. Hoje, os rumos de peregrinação vão muito além de destinos como Santuário de Aparecida: seguem para realizações gastronômicas, esportivas, culturais ou de aventura.

"Já comi de olho de macaco a miúdos de javali. Onde descubro algo novo, que tem tido sucesso, me organizo para ir e conhecer. É puro hobby. Agora vou me preparar para comer coisas exóticas como grilo e gafanhoto na Tailândia, China", afirma Victor Padilha Nogueira, 31.

Personal chef, ele virou peregrino gastronômico em 2005. Por curiosidade e por gostar de cozinha, quis conhecer uma grande variedade de petiscos e pratos fora dos cardápios tradicionais.

Desde então, Nogueira começou uma extensa jornada a bares, mercados e restaurantes em cidades de países como Espanha, Portugal, Suíça, França, Alemanha, Austrália, Paraguai, Itália, Bélgica, Estados Unidos, México, Argentina e Uruguai.

Outros viajantes fazem programações com muita antecedência e procuram grupos com as mesmas afinidades para diminuir custos.

O vendedor Thiago Rissi, 31, por exemplo. Aficionado por futebol e um peregrino do esporte, como ele mesmo diz, busca as grandes disputas.

"Procuro entrar em fóruns de discussão, grupos de redes sociais e monitorar sites de vendas de ingressos com até um ano de antecedência atrás de ofertas dos eventos que quero ir. Tenho também um grupo de amigos que costumam fazer as viagens comigo. Dividimos as tarefas, os custos", conta.

Atrás de espetáculos da bola, Thiago Rissi já percorreu quase todas as capitais brasileiras, América Latina, Japão, Dinamarca e Suécia. No ano que vem, vai assistir à final da Copa dos Campeões da Europa –e também se prepara para a Copa do Mundo na Rússia, em 2018.

"As informações básicas para uma viagem estão na internet. O que se busca hoje são experiências mais autênticas", afirma Isabella Cunha, 31, presidente da Mais Asas, empresa que oferece experiências como relaxamento em lugares inusitados ou visitas a redutos de moda, no Rio de Janeiro.

ANDAR COM FÉ

Mesmo os que procuram experiências religiosas têm ampliado horizontes, de maratonas atrás do papa Francisco a corridas por relíquias menos badaladas na Turquia.

Junto de uma visita a Aparecida, por exemplo, também há um "pulo" em Campos do Jordão (a 181 km de São Paulo) para compras e outro na capital paulista para alguma atividade artística.

Para a operadora de turismo CVC, esse público é "muito organizado", costuma cortar orçamentos em tempos de crise, mas não desiste.

As jornadas religiosas, mais comuns entre pessoas com mais de 50 anos, costumam ser preparadas meses antes e feitas no período de baixa temporada.

O guia turco Mehmet Ali Baskut, que trabalha com receptivo em Istambul, afirma que o número de peregrinos brasileiros na Turquia cresce desde 2012.

"As pessoas vêm para cá atrás de conhecimento dos primeiros séculos do cristianismo, tanto católicos como evangélicos", diz.

"Neste ano, embora tenha havido queda na frequência de brasileiros, há um público novo, que vem atrás do drama dos refugiados na Síria", afirma Baskut.


Endereço da página: