Folha de S. Paulo


ANÁLISE

'Soluções' de Haddad para reduzir custos com ônibus empacaram

Sindicalistas, empresários de ônibus e prefeitura travam uma disputa por recursos do transporte paulistano num momento em que as principais "soluções" previstas pela gestão Fernando Haddad (PT) para diminuir os custos do sistema empacaram.

A primeira delas é a licitação para contratar os novos prestadores do serviço por 20 anos. Trata-se da principal oportunidade de reorganizar as linhas de ônibus e definir condições diferentes das atuais –até em relação à margem de lucro das viações.

Haddad já fez questão de divulgar auditoria que apontou ser possível baixar a menos de metade a margem de lucro de 18,6% das empresas.

Embora haja dúvidas entre especialistas se haveria interessados, fato é que a licitação já está quase três anos atrasada. O edital só foi publicado pela prefeitura em outubro passado. No mês seguinte, acabou paralisado, devido a questionamentos do TCM (Tribunal de Contas do Município), que seguem pendentes.

Outro plano de Haddad para otimizar os custos dos ônibus envolvia a construção de 150 km de corredores exclusivos –que permitem maior velocidade, menos desperdício em engarrafamentos e atendimento dos mesmos passageiros com frota menor.

O problema é que as obras patinaram e nem metade ficará pronta no final do mandato de Haddad –pouco mais de um terço foi entregue ou está em obras atualmente.

A prefeitura culpa atrasos de verbas federais e exalta os mais de 400 km de faixas de ônibus implantadas. Mas elas são apenas paliativas, não permitem uma "pista livre" como os corredores exclusivos. Não é à toa que a velocidade média dos coletivos continua baixa, com 16 km/h de manhã e 17 km/h à tarde, contra um ideal de 25 km/h.

Um terceiro fator de debate sobre os custos do transporte está ligado à presença dos cobradores num momento em que mais de 90% dos pagamentos são por Bilhete Único.

Em 2015, esses profissionais representavam 17% do custo dos serviços de ônibus, mais de R$ 1 bilhão por ano.

Neste caso, a gestão Haddad até iniciou a discussão e travou na Justiça uma disputa para derrubar a exigência da função –embora não seja simples pensar em extinguir mais de 18 mil postos de trabalho do dia pra noite.

Enquanto a licitação do sistema não avançar, porém, na prática esse tema delicado tende a ficar esquecido –mais ainda em ano eleitoral.


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