"Apareceu um forte clarão na janela e logo depois um barulho muito forte", disse Patrícia Aguiar, 32, testemunha da explosão em um prédio do conjunto habitacional Fazenda Botafogo, em Coelho Neto, zona norte do Rio. "Parecia que tinha explodido uma bomba em frente à minha janela."
Cinco pessoas morreram e nove ficaram feridas, segundo o Corpo de Bombeiros.
A explosão ocorreu entre as 4h30 e as 5h. "Tinha fumaça e um cheiro de gás muito forte", diz Patrícia. Dentro do prédio, segundo ele, "havia muitos gritos de socorro, algumas pessoas pedindo para chamar os bombeiros".
Escapar foi difícil porque as portas dos apartamentos ficaram presas. "Os vizinhos tiveram que arrombá-las para ajudar as pessoas a sair", disse. Alguns moradores desceram de seus apartamentos e tentaram entrar no local da explosão.
No conjunto, o gás é encanado, distribuído por meio de tubulação.
Equipes de quatro quartéis do Corpo de Bombeiros foram acionadas para a ocorrência: Irajá, Ricardo de Albuquerque, Campinho e Parada de Lucas.
DESESPERO
Segundo os militares, o primeiro pavimento foi o mais afetado pela explosão. Morador do local, Eziel Oliveira de Paula afirmou que a tubulação de gás passa sob o piso dos apartamentos do primeiro andar.
"Tudo foi muito rápido. Quando acordei, o chão do apartamento tinha afundado. Eu afundei até a cintura, me cortei todo, bati a cabeça, mas só pensei em tirar meus filhos de lá", disse.
Ele afirma que os moradores tiveram que se ajudar para deixar o prédio. A sua mulher chegou a ficar soterrada, mas ele deu prioridade inicialmente ao salvamento dos filhos.
"Vi que minha esposa havia sido soterrada, mas tinha que salvar eles [os filhos]. Logo depois, voltei correndo e ajudei ela com outros moradores. Tivemos que pular e arrombar as portas para deixar o prédio. Foi a situação mais desesperadora da minha vida", disse.
Três pessoas morreram no local e duas a caminho do hospital. Os feridos foram atendidos pelos militares e encaminhados aos hospitais Carlos Chagas, Albert Schweitzer e Getúlio Vargas.
Inicialmente, o Corpo de Bombeiros divulgou nota na qual relatava 13 feridos; a nota mais recente fala em nove feridos.
Explosão em conjunto habitacional no Rio de Janeiro
VÍTIMAS
Morador de Fazenda Botafogo, Luiz Guilherme perdeu o pai e a mãe na explosão. Ele disse que os dois dormiam no momento da explosão e que foi avisado por um vizinho.
"Como é de se saber, não tinha bombeiro, não tinha médico, não tinha ninguém para atender no local", disse o rapaz, filho de Francisco Guilherme Oliveira e Rosana Oliveira, em entrevista, ao Bom Dia Rio, da TV Globo.
Segundo ele, a CEG Rio, responsável pelo fornecimento de gás, esteve recentemente por duas vezes no condomínio fazendo reparos, mas não identificou nenhum problema.
"[A CEG] falou que não tinha nenhum tipo de problema, que era um vazamento nas juntas e não daria maior problema, revisaram, tudo ok. O maior problema agora não dá para resolver (...) meus pais faleceram", disse ele.
Em outubro, em São Cristóvão, também na zona norte do Rio, uma outra explosão danificou mais de 50 imóveis e deixou oito feridos.
INVESTIGAÇÃO
O Procon estadual abriu investigação para apurar a responsabilidade da distribuidora de gás canalizado no acidente. A CEG terá 15 dias úteis para apresentar sua defesa, sob o risco de ser penalizada com autuação caso não cumpra o prazo.
De acordo com o Procon, o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor estabelece que os fornecedores de serviços respondam, independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados por problemas relativos à prestação do serviço.
"É considerado defeituoso o serviço que não fornece, entre outros itens, a segurança que o consumidor pode esperar dele", diz o Procon, em nota oficial.
O conjunto habitacional Fazenda Botafogo fica à margem da avenida Brasil, próximo ao quilômetro 19. Vizinho à favela de Acari, foi construído com recursos do extinto BNH (Banco Nacional de Habitação) e inaugurado no fim dos anos 70, com 3.440 apartamentos de 35 a 44 metros quadrados.
São 86 blocos de prédio, cada um deles com 40 apartamentos.