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De joelhos: drama de aposentada por prótese já dura quatro anos, em SP

Eduardo Anizelli/Folhapress
Com problema em prótese no joelho esquerdo, Doralice Moraes já tem indicação de operar outro joelho
Com problema em prótese no joelho esquerdo, Doralice Moraes já tem indicação de operar outro joelho

Foram quase dois anos amargando a espera por cirurgia de prótese no joelho esquerdo, acometido por artrose. A operação foi feita em 2013, no hospital estadual do Mandaqui, zona norte de SP. Mas a dor permaneceu.

Uma ressonância magnética feita em dezembro passado apontou o motivo: a prótese, colocada para substituir a articulação desgastada pela artrose, está deslocada. Será preciso nova cirurgia.

Com isso, o drama da aposentada Doralice Lopes Moraes, 66, já completou quatro anos. E ainda está longe de terminar. Ela já tem indicação de operar o outro joelho, também com artrose.

"O médico disse que tem gente em situação muito pior do que a minha. O jeito é ter paciência e esperar", diz a faxineira aposentada, que toma analgésicos diariamente para aliviar a dor e só anda com ajuda de uma bengala.

Ela conta que, após a cirurgia, fez 50 sessões de fisioterapia e seguiu todas as recomendações médicas, mas a dor no joelho permaneceu.

"Ia ao médico que fez a cirurgia para falar da dor, e ele dizia que era normal."

Desconfiada dos estalos no joelho e da dor, em dezembro de 2014 Doralice procurou a AMA (unidade municipal de assistência médica ambulatorial) Peruche e conseguiu encaminhamento para fazer a ressonância que constatou o deslocamento da prótese.

"O médico de lá disse que, se estiver inflamado, precisa fazer a cirurgia urgente."

Em julho, conta a aposentada, ela retornou ao hospital do Mandaqui, mas foi informada que não há prazo para a nova cirurgia. A Secretaria da Saúde do governo Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a aposentada só se queixou de dor em julho e tem consulta marcada para o dia 9 de setembro.

Ao menos 8.000 pessoas estão à espera de consulta médica para avaliação cirúrgica de colocação de prótese no joelho ou quadril na cidade de São Paulo, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. As cirurgias são feitas por serviços sob gestão da Secretaria de Estado da Saúde.

Segundo Marco Antonio Percope, presidente da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), as longas filas para essas cirurgias, chamadas de artroplastia de joelho, ocorrem em todo país. O tempo de espera é de dois anos, em média.

"Faltam cirurgiões especializados nesses procedimentos, próteses e outros materiais", afirma Percope.

Pessoas na situação de Doralice, que precisam de uma nova cirurgia, tendem a esperar ainda mais, segundo ele, porque o procedimento é mais complexo.

"Geralmente há perda óssea e necessidade de enxerto de osso. Quanto mais o tempo passa, mais ocorre desgaste ósseo e mais complicada pode ficar a situação."

A cirurgia tende a ser mais cara também porque, além da prótese, pode ser preciso usar hastes metálicas para compensar a perda óssea.

OUTRO LADO

A Secretaria da Saúde do governo Alckmin (PSDB) diz que Doralice Lopes Moraes foi submetida a uma artoplastia total de joelho em junho de 2013, dois meses depois de a aposentada ter sido inscrita na lista de espera.

Doralice, no entanto, afirma que a espera pela operação começou antes, desde que se tornou paciente do Mandaqui, em agosto de 2011.

A secretaria diz ainda que, segundo consta no prontuário de Doralice, a paciente passou por cinco consultas de retorno no ambulatório do hospital.

Mas só na última, em 15 de julho, ela se queixou de dores. Doralice afirma, porém, que relatou dores em todas as consultas, "mas o médico dizia que era normal".

Segundo a secretaria, foram solicitados exames à paciente, que tem consulta de retorno marcada para o próximo dia 9 de setembro, "quando, então, será avaliada a conduta a ser adotada para o caso dela".

No hospital do Mandaqui, afirma a secretaria, as cirurgias ortopédicas são realizadas conforme critérios de gravidade e urgência. Casos mais graves são priorizados.

Por ano são realizados cerca de 8.500 procedimentos do tipo em todo o Estado.

A secretaria diz ainda que estuda a implantação de uma central unificada para agendamento de cirurgias eletivas no Estado, "visando ampliar e aperfeiçoar o controle sobre esses procedimentos nos hospitais conveniados ao SUS".


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