Folha de S. Paulo


Família argentina roda a América para ensinar astronomia a crianças

Yuri Sardenberg e Ana Monteiro/Divulgação
Sofía Méndez e Daniel Ekdesman com as filhas Negra, nascida em 2012 no México, e Coral, que nasceu em Porto de Galinhas (PE), em novembro
Sofía Méndez e Daniel Ekdesman com as filhas Negra, nascida no México, e Coral, que nasceu em PE

Quando deixou a cidade argentina de Rosário, em 2011, o casal Daniel Ekdesman e Sofía Méndez, então com 31 anos, tinha um sonho, dois telescópios, livros, fotos, maquetes e um motorhome –um miniônibus adaptado.

Quatro anos, duas filhas, 15 países e 60 mil km depois, o casal argentino construiu um projeto que materializou um sonho: percorrer a América Latina ensinando astronomia a crianças de baixa renda, especialmente em áreas rurais e escolas públicas no interior de cada país.

O Projeto Miradas começou a ser pensado em 2009, quando Ekdesman, jornalista e carpinteiro, e Sofía, professora infantil, decidiram criar algo que lhes permitisse viajar pela América Latina.

"A astronomia permite tudo, acordar em um mundo fantástico, conversar sobre a vida, experimentar ciência e criar artisticamente", afirma Sofía.

Até então sem filhos, o casal iniciou há quatro anos a jornada em uma pequena cidade a cinco horas de Rosário. Depois, rumaram para países andinos, até chegarem ao México, em 2012.

Nas cidades por onde passam, procuram escolas públicas, centros culturais e orfanatos onde possam oferecer oficinas às crianças.

Nelas, ensinam a entender os movimentos da terra e da lua, além de permitir a observação da lua, de planetas, de estrelas e nebulosas. Para isso, usam maquetes, fotografias, livros, telescópio. "Às vezes, [não procuramos] somos procurados", diz Sofía.

Ela não sabe com quantas crianças lidou, mas diz já ter passado por 72 escolas em toda a América Latina.

No México, o casal parou por quatro meses para o nascimento de Negra, em 2012, em San Cristóbal de las Casas. Dois anos depois, à espera de Coral, o casal decidiu vir ao Brasil, em Porto de Galinhas (PE), onde nasceu a menina, em novembro.

Em março, na Chapada Diamantina (BA), foram chamados a apresentar o projeto em uma comunidade quilombola e também em um acampamento de sem-terra.

O projeto é mantido com doações, venda de artigos do projeto –como postais, canetas e camisetas–, além da receita de cursos ministrados em países visitados.

MODELOS

"Recebemos apoio das mais variadas formas por onde passamos", diz Sofía. No Rio, onde estavam em junho, um desses apoios veio da rede de artigos infantis Bebê Básico, resultado de um encontro inesperado.

A estilista e diretora da marca, Paula Costa, procurava desesperadamente uma família que substituísse a que havia desistido das fotos que faria para o catálogo da grife. Encontrou-os enquanto passeava com marido e filho pela praia da Macumba, no Rio.

"Buscava uma família real, sem frescura, com uma história legal. Não acreditei quando vi a Negra saindo do motorhome e, depois, Sofía com Coral no colo." O casal posou para as fotos e, em troca, recebeu peças da coleção.

O Miradas também é apoiado pela Universe Awareness, instituição criada na Alemanha para fomentar o ensino da astronomia, que, por sua vez, tem patrocínio da Unesco e da União Astronômica Internacional.

Assim, o casal decidiu voltar para a Argentina. A família deixou o Rio no final do mês de junho e se dirigiu ao Paraguai, com escala em Foz do Iguaçu.

O projeto continuará a ser tocado, mas agora o casal quer reduzir o raio de distância para ficar mais perto de casa –as filhas desejam mais proximidade com a família na Argentina.


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