Folha de S. Paulo


Shoppings de SP e MG vão à Justiça para barrar adolescentes sozinhos

Shoppings do interior de São Paulo e de Minas estão indo à Justiça para vetar a presença de crianças e adolescentes sem os pais ou responsáveis. Já são oito casos nos últimos meses.

Os estabelecimentos dizem que o objetivo é evitar baderna e garantir as vendas e a segurança de clientes e lojistas.

Em um deles, em Franca (SP), o primeiro a adotar a prática na recente onda de ações, houve tumulto em janeiro durante um "rolezinho" –encontro de adolescentes marcado pela internet. A liminar veta menores de idade sozinhos às sextas-feiras.

Em Ribeirão Preto (SP), desde março jovens de até 13 anos desacompanhados estão proibidos de entrar no Ribeirão Shopping e no Santa Úrsula de sexta a domingo.

O Praça Uberaba, inaugurado no último dia 29 em Uberaba (MG), foi o último a adotar a medida. Uma semana antes, o Plaza Avenida, de São José do Rio Preto (SP), obteve decisão semelhante.

Os outros casos estão em Belo Horizonte e em São José dos Campos (SP).

Na capital mineira, dez queixas foram feitas à comissão do direito da criança e do adolescente da OAB depois que o Minas Shopping e o Estação BH passaram a barrar jovens desacompanhados.

Segundo a OAB, não havia até segunda-feira (4) decisão judicial favorável à proibição.

Mariana Martins/Folhapress
Policiais militares e guardas civis em frente ao shopping Santa Úrsula, em Ribeirão, para evitar 'rolezinho
Policiais e guardas civis em frente ao shopping Santa Úrsula, em Ribeirão, para evitar 'rolezinho'

MUDANÇA DE PLANOS

Presidente da comissão, Renata Roman disse que no último domingo (3) cerca de 400 jovens foram barrados no Estação após marcarem um "rolezinho". O fato gerou tumulto na porta do local.

Alguns dias antes, o empresário Sebastião Andrade Gomes teve de buscar os filhos, de 13 e 15 anos, que veriam um filme sozinhos. "Acabei indo ao cinema com eles", disse. "A medida gera desconforto, porque não era essa a minha intenção. E acho que nem a dos meus filhos."

"A medida não é ilegal, mas não é eficaz. A forma de mudar isso é pressionar, principalmente em relação ao comércio. Quando perderem vendas, os shoppings vão repensar essa medida", disse Roman, da OAB mineira.

O Estação diz que o espaço e a operação não são planejados para receber eventos e aglomerações. O Minas alega que as ações são pontuais, para garantir a segurança.

Em Rio Preto, o veto do Plaza Avenida vale para sexta e sábado, das 18h às 22h, e atinge menores de 16 anos.

"É ruim, precisamos organizar a vida de toda a família por isso", disse a comerciante Ana Maria Cardoso, que tem dois filhos, de 14 e 15 anos. O shopping diz que a medida não almeja impedir o acesso dos jovens e que preza pela segurança.

RESTRIÇÃO

No caso do Vale Sul, de São José dos Campos, a Justiça derrubou uma decisão que impedia os rolezinhos, mas o centro de compras recorreu. Ainda não há decisão final.

Diretor jurídico da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings), Marcello Furman afirmou que as decisões não têm o caráter de proibir, mas de restringir o acesso de jovens. "Todos são consumidores, e shopping bom é shopping cheio. O que não pode ocorrer é um desvirtuamento da função."


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