Folha de S. Paulo


Monalisa vira funkeira nos muros grafitados de São Paulo

Marlene Bergamo/Folhapress
Monalisa funkeira; o professor Tars em frente a uma de suas criações
Monalisa funkeira; o professor Tars em frente a uma de suas criações

A Monalisa desceu até o chão. Os cabelos, agora, estão maiores, mais ondulados. O vestido, mais justo, mais curto. O sorriso continua enigmático.

Séculos depois de Leonardo da Vinci pintar seu mais famoso quadro, a personagem da tela estampa dezenas de muros paulistanos com uma postura, digamos, menos rígida.

A Gioconda verdadeira continua no Louvre, em Paris. A paulistana ganhou apelido: a Mona do Funk, tudo por causa do rebolado característico dos batidões.

Pintada pelo professor de artes Tars -apelido criado com base nas iniciais de seu nome (Tiago Angelo Ramos da Silva)- a Monalisa funkeira está famosinha no Instagram, rede social de fotos.

Com hashtags como #monadofunk ou #Monalisafunkeira, ela é fotografada junto dos admiradores, que fazem poses variadas: dão beijo, dançam colado, compõem um "trenzinho" ou acompanham um batidão imaginário ao lado da Mona.

"Eu não esperava que as pessoas fossem gostar tanto", diz Tars, 30.

A funkeira surgiu de uma frustração. Há dois anos, o professor da rede pública estava descontente com a rotina de aulas. "Estudei artes não apenas para dar aulas, faltava algo."

Então Tars misturou museu e rua. A Monalisa de da Vinci foi parar num estêncil -uma espécie de molde. Mas veio transformada, com aquela pose toda. "Quis fazer uma brincadeira com o quadro mais famoso do mundo."

O professor espalhou a figura da Mona por Poá, cidade onde mora e trabalha na Grande São Paulo.

Mas Poá ficou pequena. "Tinha na cidade toda. Aí resolvi pintar em São Paulo."

A primeira Monalisa paulistana foi desenhada no Vale do Anhangabaú, no centro. Depois, Ibirapuera, Vila Mariana (zona sul), praça da Sé, Largo do Paiçandu, Praça das Artes e por aí vai.

"Um dia, um aluno meu falou: professor, você viu que as pessoas estão tirando fotos com a Mona?", conta Tars, tomando água num barzinho do centro.

INTERAÇÃO

"As pessoas enxergam seus próprios significados para o grafite, eu não tinha pensando em funk quando pintei a primeira", diz Tars.

"Mas gosto dessa interação, a apropriação da obra e da cidade."

Uma das Monas foi pintada na banca de jornal de Sandra Sesick, 53. "Ele não pediu autorização. Quando cheguei de manhã, ela estava lá, daquele jeitão. Fiquei puta."

A jornaleira percebeu, porém, que as pessoas paravam na banca só para tirar foto com a Mona. "Chamo ela de tchutchuca. Todo mundo quer uma foto, fazer poses insinuantes."

Na quarta-feira (11), uma empresa de telefonia que patrocina a banca mandou funcionários retocarem a pintura do local, mas a jornaleira impediu que a Mona fosse apagada. "Minha banca virou ponto turístico."

Já é possível encontrar até camisetas com a estampa do desenho. "Descobri esses dias, não fui eu quem fez", conta Tars.

Na semana passada, ele registrou a marca "Mona do Funk" no Ministério da Cultura. No entanto, o professor reconhece: a Monalisa funkeira não é mais só dele.


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