Folha de S. Paulo


Guardar água em casa contra a seca pode causar aumento de doença

A sequência de dias chuvosos em tempos de crise hídrica da história tem levado moradores a estocarem água para amenizar os problemas no abastecimento.

Especialistas afirmam, porém, que o armazenamento incorreto pode ampliar casos de doenças, como a dengue e a febre chikungunya. A Prefeitura de São Paulo também já demonstrou preocupação com essa prática.

Entre 4 e 24 de janeiro, houve 1.304 casos de dengue na cidade de São Paulo, 163% a mais do que os 495 no mesmo período de 2014.

A dona de casa Maria das Dores Mourão, 56, tem quatro caixas-d'água de 500 litros, compradas ao longo dos anos. Nesta quinta-feira (5), notou que uma delas não tinha nem sequer uma tampa.

Eduardo Anizelli - 14.out.14/Folhapress
Morador mostra caixa d'água na zona oeste de SP; guardar água em casa pode causar o aumento de doenças
Morador mostra caixa d'água na zona oeste de SP; guardar água em casa pode aumentar doenças

"Ela era fechada, mas acho que ficou assim depois que o funcionário de um caminhão pipa foi embora e esqueceu de colocar a tampa de volta. Eu tenho muito medo da dengue, por isso vou pedir para colocar de volta", disse ela, que vive em Guarulhos (Grande São Paulo).

A empregada doméstica Ivanete Maria da Costa, 40, mantém baldes para captar água da chuva e jogar no vaso sanitário. "Tenho que comprar alguns com tampa porque esses eu tenho de gastar rápido para não criar dengue. Lavo até roupa com essa água", afirmou.

Calor, tempo úmido e água parada compõem o ambiente ideal para a proliferação da dengue, diz o infectologista Artur Timerman, do hospital Edmundo Vasconcelos.

"A larva do mosquito, para eclodir, precisa de duas condições que estamos fornecendo: calor e umidade. O jeito mais fácil de eclodir a larva é deixar a água parada em recipientes assim."

Para ele, a prática de armazenar água em casa não é solução para a crise de abastecimento, que é estrutural.

Outro risco é o peso das caixas-d'água extras, que podem causar danos ao imóvel.

Josefa Freitas, 66, tem três reservatórios de 1.000 litros e outro de 500 em uma casa de quatro andares. "Quero comprar outra caixa de 1.000 litros porque já cheguei a ficar sem água e tive que tomar banho na casa de amigos." A casa, diz, suporta o peso.

Editoria de Arte/Folhapress

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