Folha de S. Paulo


Situação que causa falta de energia é anormal, diz direção da Eletropaulo

Em entrevista à Folha, o vice-presidente de operações da AES Eletropaulo, Sidney Simonaggio, definiu a situação que deixou 800 mil sem energia como "anormal" e disse que a última situação parecida foi registrada em 2011, com a passagem de um ciclone extra tropical.

De acordo com ele, todas as equipes da Eletropaulo foram deslocadas para o trabalho de restabelecimento da rede elétrica. Mesmo assim, há pessoas que estão há vários dias sem luz devido às últimas chuvas.

"Não se trata de reparar a rede, se trata de reconstruir a rede. Esse trabalho de reconstrução chega a levar seis, oito horas. É o que acaba gerando o fenômeno da fila", afirma Simonaggio.

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Leia abaixo trechos de entrevista:

Folha - Alguma situação parecida já havia acontecido antes?
Sidney Simonaggio - A última vez que aconteceu foi em junho de 2011 quando passou um ciclone extra tropical. Foi bastante noticiado, ele passou em junho, que é inverno. Foi uma condição climática diferente da de hoje, mas foi um evento que causou muitos danos. Lembro que naquela noite rodei a empresa indo a vários pontos, você via um cenário de destruição, que é mais ou menos o que está acontecendo. A gente teve o dia 29 de dezembro onde foram 289 árvores caídas. Foi o 2 de janeiro com episódio de chuva com impacto alto. Na quarta-feira passada teve destruição da zona leste. No dia seguinte, pegou a zona sul e oeste da cidade - caíram 80 árvores. E o impacto de ontem [segunda, 12].

O estrago traz um efeito acumulativo?
A nossa percepção é que o evento de ontem foi mais severo do que o próprio dia 29.

A empresa estava preparada para uma situação como essa?
Do ponto de vista de efetivo, a empresa tem efetivos para desenvolver várias atividades. Tem equipes de emergências, temos equipes de inspeção de fraude, de manutenção pesada, o que fizemos foi direcionar todas as equipes para o atendimento das emergências. Você consegue prever isso [que aconteceu]? Não. É uma condição que não dá para prever. É altamente improvável.

Após a queda de árvore e interrupção da energia, qual é a responsabilidade da empresa e qual é da prefeitura?
A responsabilidade está em fazer a poda dos galhos que tocam os fios. A árvore é um patrimônio municipal. A responsabilidade pela gestão do parque arbóreo é da prefeitura. Se não existisse a rede elétrica só se estaria falando da prefeitura mexendo nas árvores.

Depois que árvore cai sobre a rede, qual é a responsabilidade da Eletropaulo?
Se você tem por exemplo a quebra de um galho sobre a rede, e é um galho de médio porte, as nossas equipes vão lá, passam as serras no galho e reparam a rede. Tem outras situações onde uma grande árvore cai, quebrou a rede, mas não está tocando nos fios, então vão os bombeiros e arrumam. Existe uma outra possibilidade que a árvore cai sobre uma edificação e desestabiliza a edificação. Aí precisa da Defesa Civil [que é da Prefeitura]. Nós não temos a atribuição e nem a autorização para remover árvores. Quem tem é bombeiro e a Defesa Civil. Quando acontecem situações de crise, a gente compõe esse centro de coordenação de crise para que os esforços sejam direcionados. É feito o mapeamento das árvores caídas.

A integração está funcionando?
Não é de agora que estamos praticando isso. Faz uns dois.

Por que há casos em que pessoas estão vários dias sem luz?
Por conta da quantidade de reparos que têm que ser feitos. A árvore caída é o sinal visível da ação dos ventos. O que não é tão visível é que o mesmo vento promove o lançamento de milhares de pequenos galhos, folhas de zinco, detritos na rede e cria múltiplos impactos na rede. Não se trata de reparar a rede, se trata de reconstruir a rede. Esse trabalho de reconstrução chega a levar seis, oito horas das equipes trabalhando. Esse é o problema que acaba gerando o fenômeno da fila. É diferente de um dia normal que uma equipe vai ali, tem uma ocorrência e é uma ocorrência relativamente simples.

A Eletropaulo pensa em tomar alguma medida de emergência?
Nós tomamos medida de emergência. Direcionamentos toda empresa para fazer restabelecimento de energia elétrica.

A Eletropaulo tem alguma meta interna para religação da energia?
Dentro de um ambiente de normalidade, o agente regulador define aquilo que é chamado de conjunto elétrico. Então, cada conjunto elétrico tem uma meta mensal, trimestral e anual de frequência de desligamento e duração do desligamento. O que nós estamos vivendo não é normal. Quando você tem 280 árvores caídas num único dia, ventos de 85 km/h, 8 mil raios caídos em uma hora. Você fica preocupado porque foge de um cenário normal.

O verão está só começando, isso pode continuar.
Isso que estamos vivendo é anormal. Ontem, teve a repetição até. Mas não acreditamos que esses episódios devam continuar se repetindo.

Há muitas reclamações sobre a performance do call center. O que vocês pensam em fazer para melhorar a situação?
O call center nosso está dimensionado. Temos um atendimento de 40 mil ligações por dia. Quando tem uma chuva de verão de um certo porte, naquele horário chega a ter 800 mil chamadas, 1 milhão de chamadas. No episodio de fevereiro de 2011, tivemos quase 1,7 milhão de chamadas. Foi nesse episódio que a gente reformulou o nosso call center, que tem capacidade de atender a variação.

A capacidade então é o suficiente?
A suficiência ela vem quando você olha o cenário. Eu tenho um cenário, eu sei que nesse cenário eu tenho momentos de pico. Agora, podem existir situações que esse cenário é superado. Essas situações são normais? Não. Não são normais. Nós vamos levar oito estepes no nosso carro?

Quando a situação de falta de energia deve ser resolvida para todos?
Para resolver a situação, devemos levar mais um dia de trabalho intenso com equipes trabalhando.

Folha - Sempre que ocorre esse tipo de problema, se fala em enterramento de fios. Como estão os projetos para isso?
A regulação do setor de energia elétrica é federal. É a Aneel que define qualidade e preço, que define se vai ter subterrânea e rede área. A rede aérea é o padrão mundial. Muitas pessoas me procuram e dizem: em todo lugar do mundo é enterrado. Nova Iorque, por exemplo, a 5ª Avenida é enterrada. A nossa avenida Paulista é enterrada. Quando você vai para as bordas de Nova Iorque, você começa a ver postes aparecendo. A rede subterrânea é de 10 a 20 vezes mais cara. Não pode existir a aplicação indiscriminada [da rede subterrânea] porque o senão encarece de tal maneira que o pagador diz: não quero isso. Hoje existe uma discussão com a Aneel e um projeto de lei federal em tramitação no senado federal [sobre o assunto]. Se perguntar para nós, somos altamente favoráveis ao enterramento de rede, tanto que, há dois anos, custeamos um estudo de como se daria esse enterramento. A gente inclusive tem contribuído, tanto na Aneel como num projeto de lei que está em tramitação, estamos aduzindo o conhecimento que temos nesse estudo para que as coisas sejam aplicadas: 70% do custo é em obras civis, não tem nada a ver com eletricidade, é a repavimentação, construção de dutos, reconstrução da calçada. Esses custos não deveriam estar com o setor elétrico, deveriam ser absorvidos por isenção de impostos para os proprietários que têm o imóvel valorizado pelo enterramento de rede, é a municipalidade se responsabilizar as ruas e calçadas. E fica para o setor elétrico aquilo que sempre ficou, que é o fio, transformador e demais equipamentos elétricos. Com isso você garante que a tarifa se mantenha num patamar baixo importante para competitividade da indústria.


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