Folha de S. Paulo


Procuradoria vai investigar professor que diz preferir médico branco a negro

O Ministério Público Federal no Espírito Santo vai apurar se a declaração de um professor universitário sobre sua preferência por um médico branco em detrimento de um negro se configura um ato de racismo.

Para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) capixaba, as declarações se enquadram em crime de injúria racial.

Durante um debate em sala de aula sobre o sistema de cotas, na segunda-feira (3), o professor Manoel Luiz Malaguti Barcellos Pancinha, da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), disse que preferia ser atendido por um médico branco em vez de um negro. Os estudantes do curso de ciências sociais fizeram uma denúncia à reitoria.

Em entrevista ao site "Gazeta Online", Pancinha voltou a repetir a distinção. "Eu diria simplesmente e reafirmo que dois médicos com o mesmo currículo, com a mesma experiência, só que um negro e outro branco, em função da possibilidade estatística de esse médico branco ter tido uma formação mais preciosa, mais cultivada, eu escolheria o médico branco."

Ainda segundo o professor, os cotistas negros têm mais dificuldades de acompanhar certas explanações em aulas, porque a maioria teria vindo de "comunidades menos privilegiadas".

"E nesse sentido eles não têm uma socialização primária na família que os torne receptivos aos trâmites da universidade, à forma de atuação e objetivos da universidade", afirmou o docente na entrevista. "Eu não acho que é uma visão preconceituosa. Acho que é bastante realista".

REPERCUSSÃO

A Ufes abriu uma sindicância para apurar a denúncia.

O reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte, criticou as afirmações do docente e defendeu o sistema de cotas para alunos da rede pública aplicado na instituição desde 2007.

"Nossa universidade é uma universidade plural. Somos contra qualquer discriminação social, racional, de opção sexual, de gênero. Qualquer tipo de discriminação não vai encontrar nenhum amparo nesta universidade."

O inquérito deve durar no máximo 90 dias. Se for punido, o professor pode ser advertido verbalmente ou até exonerado do cargo.

O Ministério Público Federal no Estado também instaurou procedimento investigativo criminal para apurar a conduta de Pancinha, depois da representação feita por um desembargador.

Para o magistrado Willian Silva, o professor "adotou um discurso evidentemente preconceituoso em relação aos alunos negros" ao dizer que precisava usar linguagem mais acessível em sala para que os estudantes pudessem acompanhar a aula.

Segundo o advogado José Roberto Andrade, o professor "ofende a dignidade dessas pessoas [cotistas]" com um discurso "com viés discriminatório".

A reportagem tentou ouvir o professor Manoel Malaguti Pancinha, mas ele não atendeu as ligações feitas na noite desta quarta-feira (5).


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