Folha de S. Paulo


Morte de ambulante durante blitz foi 'caso isolado', afirma Haddad

O prefeito Fernando Haddad (PT) disse nesta sexta (19) que a morte do camelô Carlos Augusto Muniz Braga, 30, durante blitz na Lapa (zona oeste de São Paulo) é "um caso isolado" dentro da Operação Delegada - no qual PMs em folga recebem da prefeitura para atuar pelo município - e que não pretende mudar o esquema de combate ao comércio irregular nas ruas.

Haddad afirmou, no entanto, que o caso será investigado para apurar as responsabilidades. O vendedor ambulante foi morto com um tiro na cabeça desferido por um policial militar durante uma blitz na tarde de quinta (18).

"Vamos esperar o inquérito para saber o que de fato aconteceu. Há um processo permanente de aperfeiçoamento [da operação]. É um caso isolado, mas que tem que ser analisado em profundidade para saber se houve um comportamento indevido por parte do policial ou se é uma atitude mais generalizada", disse Haddad.

"Para isso existe o inquérito, para apurar a responsabilidade e para tomar uma decisão. Mas, no momento o processo é de investigação para ver o que aconteceu", afirmou. Em abril, Haddad enviou para a Câmara um projeto estende a Operação Delegada para a GCM (Guarda Civil Municipal).

O governado Geraldo Alckmin (PSDB) também comentou o caso nesta sexta-feira e disse que o caso será investigado com "empenho". "Foi um fato muito triste. A nossa total solidariedade a família da vítima. A corregedoria da Polícia Militar já está investigando e o DHPP também. Todo empenho nesta investigação", afirmou Alckmin.

Atualmente, a operação é um 'bico oficial' realizado por policiais militares e criado durante a gestão Gilberto Kassab (PSD). O trabalho é feito nos horários de folga, pago pela prefeitura e objetiva aumentar o efetivo nas ruas e incrementar salários dos PMs.

Avener Prado/Folhapress
Policial preso após atirar e matar ambulante durante operação na região da Lapa
Policial preso após atirar e matar ambulante durante operação na região da Lapa

PM ESTÁ PRESO

O PM, que não teve o nome divulgado, foi transferido nesta manhã para o presídio militar Romão Gomes, na zona norte da cidade.

De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública, o policial foi preso em flagrante por homicídio.

O caso está sendo apurado tanto pela Corregedoria da Polícia Militar quanto pela Polícia Civil. A Secretaria de Segurança, por meio de nota, diz que "não compactua com desvio de conduta de policiais".

Em depoimento à polícia, o policial militar disse que o tiro foi acidental.

Segundo uma testemunha, os policiais dominaram o camelô, que estaria vendendo CDs piratas na rua 12 de Outubro. Um dos PMs tentava afastar a multidão com a arma em punho.

Em vídeo divulgado pela TV Record, esse policial aparece com um spray de pimenta na mão esquerda e uma pistola na mão direita. Pelas cenas, é possível ver que Braga agarra a mão esquerda do PM, parecendo tentar arrancar o spray.

O policial reage, leva a pistola na direção de Braga e dispara. Dá então dois passos para trás e deixa a arma no chão.

Em outro vídeo, divulgado na internet, Braga aparece caído, sangrando pelo nariz.

Segundo a PM, ele foi levado para o Hospital das Clínicas, que informou que o camelô já estava morto ao chegar. Piauiense, Braga era casado e tinha quatro filhos.

Inicialmente, a PM informou que o camelô havia sido baleado na costela após tentar arrancar a arma do policial. Disse ainda que o PM também havia sido baleado.

Após a divulgação dos vídeos, a corporação afirmou que não saberia informar em qual parte do corpo o ambulante havia sido atingida. E não confirmou a informação de que o PM estava ferido.

Após a operação, ambulantes fecharam ruas da região com barricadas de lixo em chamas e quebraram orelhões. Um ônibus e a estação da CPTM foram depredados. No tumulto, lojas fecharam as portas e houve correria. A confusão durou três horas.

Cinco pessoas foram detidas por vandalismo e uma foi presa por desacato, segundo a PM. Um policial teve ferimentos leves.

Mauricio Rummens/Fotoarena/Folhapress
Confronto entre ambulantes e policia na rua 12 de outubro, na Lapa, zona oeste de São Paulo
Confronto entre ambulantes e policia na rua 12 de outubro, na Lapa, zona oeste de São Paulo

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