Folha de S. Paulo


Em Pedrinhas, 63% das mortes de 2013 são 'a esclarecer'

O massacre no complexo prisional de Pedrinhas, em São Luís, evidenciou a crise do sistema carcerário do Maranhão e do país e expõe agora as deficiências da investigação policial.

De 60 presos mortos dentro das celas de Pedrinhas em 2013, a polícia não sabe o que ocorreu em pelo menos 38 casos (63% do total).

O governo Roseana Sarney (PMDB) informou à Justiça o andamento dos inquéritos, em documento obtido pela Folha. Em alguns casos, a Polícia Civil não sabe nem o nome correto da vítima.

Nos outros 22 inquéritos, a polícia identificou autores em nove casos. Os 13 restantes não são citados no material enviado à Justiça.

Após a revelação da crise em Pedrinhas, no começo deste ano, o complexo prisional se tornou símbolo da violência nas cadeias do Brasil.

Entidades internacionais entraram no circuito, cobrando do Brasil resultados nas apurações desses crimes.

O horror na prisão alcançou projeção internacional após a divulgação do nível da violência no local -retratado, por exemplo, em vídeo publicado pela Folha em que detentos registram a decapitação de outros presos.

Mais sete detentos morreram neste ano em Pedrinhas. A Procuradoria-Geral da República estuda se pedirá intervenção federal no Maranhão diante da situação.

editoria de arte/folhapress

'LEI DO SILÊNCIO'

O levantamento dos casos é um resumo da Polícia Civil, de janeiro deste ano, sobre a situação dos inquéritos.

Dos 38 casos com autor "a esclarecer", 37 são de homicídio e um de morte acidental. Em todos, a polícia pede à Justiça mais prazo de apuração, mesmo para mortes ocorridas em janeiro de 2013.

A superintendente da Polícia Civil em São Luís, Katherine Lima, disse que a principal dificuldade para chegar aos assassinos de
Pedrinhas é a chamada "lei do silêncio".

"Os presos sempre falam que estavam dormindo, que não viram nada", afirmou.

A delegada também responsabilizou a Sejap (Secretaria da Justiça e da Administração Penitenciária) pela demora nos inquéritos.

"[A Sejap] demora a apresentar presos ou simplesmente não apresenta, não responde a pedidos dos delegados, não fornece imagens [internas de segurança]", disse.

A Sejap não se manifestou.

Marlene Bergamo - 10.jan.14/Folhapress
Detentos participam de culto religioso no complexo prisional de Pedrinhas (MA), onde 60 presos morreram em 2013
Detentos participam de culto religioso no complexo de Pedrinhas, onde 60 presos morreram em 2013

Para o defensor público Paulo Rodrigues da Costa, falta investimento para apurar crimes em presídios. "Como o efetivo policial é pequeno, já há deficiência para apurar crimes fora da prisão."

O índice de homicídios elucidados em Pedrinhas em 2013 (15% do total) está próximo ao de outras regiões do país, afirma Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos de Violência da USP.

Segundo Adorno, a falta de provas técnicas e a fragilidade dos testemunhos dificultam a solução dos casos. "Para o coletivo [social], o custo do crime parece baixo."

No Estado de São Paulo -que apresenta padrão de resolução um pouco acima da média das demais regiões do país-, o índice de elucidação de homicídios dolosos é de 38%, segundo o governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Questionada, a polícia maranhense não respondeu sobre o índice geral de elucidação de homicídios no Estado.


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