Folha de S. Paulo


Opinião: Fechado por barulho, 'Merça' é patrimônio da cidade

A Mercearia São Pedro não é apenas um bar: é patrimônio cultural de São Paulo.

O maior ponto de encontro do mundo entre escritores e os seus leitores. Está para a literatura brasileira como "La Bodeguita" de Havana para Hemingway.

A Merça, como é gentilmente tratada, tem mais importância para a cultura nacional do que a Academia Brasileira de Letras, com o perdão da turma que molha o nobre biscoito no inocente chá da casa de Machado de Assis.

O fechamento do bar-livraria, mania de perseguição que começou no kassabismo e prossegue no petismo "salve simpatia" do Haddad, reflete diretamente na produção não somente literária, mas do cinema, do teatro, da música, da fotografia, das artes no geral.

Bar-estuário, diariamente ali são gestados muitos livros, filmes, discos, peças, exposições. Sem falar nos amores oficiais e clandestinos. É o típico boteco "meio intelectual, meio de esquerda", como classificaria o cronista Antonio Prata, que aprendeu o caminho da Merça com o pai, o escritor Mário Prata.

Sim, caro Pondé, é um bom lugar para pegar homem ou mulher. É um lugar prenhe de vida e luxúria.

Existe amor em SP, mas, por favor, com um livro do Adam Smith -sábio filósofo e economista da escola liberal- talvez o freguês não saia de lá muito satisfeito. A bíblia das belas moças da área é o "Pornopopéia", com acento mesmo, do gênio Reinaldo Moraes.


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