Folha de S. Paulo


Bope é recebido a tiros por traficantes em favela vizinha a que receberá UPP

Policias do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) foram recebidos a tiros na favela Vila Aliança, na zona oeste do Rio. A comunidade fica vizinha a Vila Kennedy, que está sendo ocupada hoje pela polícia para receber a 38ª UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

Os policiais avistaram os criminosos quando sobrevoavam a região durante a operação. A PM confirmou que seis pessoas foram presas, sendo dois foragidos da Justiça, na Vila Kenendy. Uma moto roubada foi recuperada na comunidade. Já na Vila Aliança, que é comandada pela facção Terceiro Comando Puro, três criminosos foram presos.

Segundo a PM, os presos na Vila Aliança estavam em uma boca de fumo. Com os traficantes, foram apreendidos um fuzil, uma pistola, duas granadas e drogas.

A Folha acompanhou a operação do Bope na Vila Aliança e flagrou criminosos efetuando tiros de fuzil contra a polícia. Ainda não há informações sobre feridos.

Por volta das 9h30, homens do Bope vasculhavam o matagal do morro que divide a Vila Kennedy com as favelas Vila Aliança e Coréia. O clima é tenso na região.

Durante a operação, estão sendo usadas retroescavadeiras para derrubar as barricadas que são montadas por criminosos para impedir o acesso dos policiais às ruas e às vielas da Vila Kennedy.

"A gente sempre anda no desespero aqui com medo de chegar, de sair. Vamos ver se agora [com a ocupação da favela] a gente tem paz e acaba com esses tiroteios, essa violência toda", disse a doméstica Cláudia da Silva, 32, nascida e criada na região. A moradora afirmou ainda que sua filha chegou a perder o último ano na escola por conta dos tiroteios entre traficantes na favela Vila Kennedy.

Cerca de 17 escolas e creches da localidade amanheceram com as portas fechadas e só devem voltar a funcionar na próxima semana – por segurança. Pelo menos 9.000 alunos foram prejudicados.

Morador da Vila Kennedy desde a década de 60, o aposentado Gelson Machado, 75, disse que antigamente só existiam sítios com plantações de laranjeiras na região.
"Aqui só tinha pé de laranja. Conhecido antigamente como retiro do Guandu, passou para o domínio do tráfico na década de 70", disse.

"Aí tudo desandou com eles circulando armados no meio da rua. Dá raiva, mas com medo de morrer a gente não fala nada. Tinha sempre tiroteio e em alguns dias se você contasse eram mais de 500 tiros em até uma hora de confronto [entre traficantes]. Agora, espero que seja um alívio a chegada da polícia", afirmou.

Ao menos 300 policiais do Bope, BPChoque (Batalhão de Polícia de Choque), BAC (Batalhão de Ações com Cães), 14º Batalhão de Polícia Militar (Bangu), BPVE (Batalhão de Vias Especiais) e GAM (Grupamento Aeromóvel), além de policiais da Corregedoria Interna da PM, participam da operação.

Segundo fontes ligadas à cúpula de segurança do Rio, a implantação dessa UPP acontece para mostrar que o programa de pacificação continua em expansão.

As comunidade Vila Kennedy e Metral somam uma população de 33.751 pessoas e 10.294 domicílios, de acordo com informações do IPP (Instituto Pereira Passos) com base no Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

A Secretaria de Segurança pede que todos os moradores saiam de casa com documentos de identificação porque podem ser parados pela polícia para averiguação. A pasta também pede a colaboração dos moradores na denúncia de criminosos, esconderijos e locais onde são guardados armas, drogas e objetos roubados.

As informações podem repassadas ao Disque-Denúncia no telefone 2253-1177 ou para a PM no 190.

PROBLEMAS

A expansão do projeto, agora na Vila Kennedy, zona oeste da cidade, acontece em meio a problemas em outras unidades já instaladas. Para o governo, as manifestações e ataques ocorridos em duas UPPs, nas últimas 24h, são considerados "fatos isolados".

No complexo do Alemão, na zona norte, por exemplo, houve uma manifestação após a prisão de nove jovens. No morro da Coroa, na região central do Rio, o comércio fechou depois da morte de dois homens que trocaram tiros com policiais militares.

Em nota, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame informou que não "vai admitir qualquer retrocesso". "As UPPs representam um processo de retomada de território. Depois de décadas sob o domínio do tráfico, ainda há desafios pela frente. No entanto, o balanço é positivo", disse Beltrame.

Nas duas comunidades, o policiamento foi reforçado. A Polícia Civil ainda fez uma operação no complexo do Alemão e apreendeu 50 motos na região.

Uma investigação foi aberta e apura se traficantes ordenaram moradores a se manifestarem na terça-feira (11). Na ocasião houve um confronto entre a população e PMs.

Essa pode ser mais uma prova de que, independente da facção, traficantes ainda dão ordens em áreas ocupadas com UPPs.

"A população confia no trabalho da polícia. Moradores continuam denunciando, existem pessoas que têm medo de denunciar e isso é fruto da memória traumática que possuem", informou a assessoria das UPP


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