Folha de S. Paulo


Sem ônibus, Porto Alegre usa barco de turismo em rota emergencial

Para amenizar os transtornos de uma greve de ônibus que já dura nove dias, Porto Alegre resolveu apelar para o transporte hidroviário de maneira emergencial.

Três barcos de turismo, usados em passeios pelo rio que banha a capital gaúcha, foram transformados em embarcações de transporte de passageiros nesta terça-feira (4).

Uma rota provisória foi criada ligando o centro a um bairro que fica do outro lado do estuário. Em linha reta, a distância é de apenas 2.000 metros. Por terra, o percurso aumenta para cerca de 20 km.

A prefeitura diz que a intenção é oferecer mais uma alternativa para os mais de 1 milhão de passageiros afetados pela paralisação do transporte público. Atualmente, a capital gaúcha é atendida por apenas uma linha hidroviária fixa, que faz a ligação com a cidade de Guaíba, na região metropolitana. A ampliação da rotas por rio é uma demanda antiga da população.

Como a medida foi tomada às pressas, com pouca divulgação, nesta terça a procura de passageiros pelos barcos foi pequena. Um carro de som foi contratado para anunciar a novidade à população. O preço da passagem é de R$ 4.

O transporte de emergência por água se soma a outras iniciativas já tomadas pelo município durante a crise, como a autorização para que proprietários de vans escolares atuem nos trajetos dos ônibus que não estão circulando.

Cerca de 400 desses veículos estão sendo usados no transporte público nesta semana. É pouco para atender a demanda da população durante a greve: nesta época do ano, 1.400 ônibus deveriam estar circulando na cidade diariamente.

O fluxo de vans e ônibus clandestinos também é intenso pela cidade. Hoje, fiscais flagraram dois veículos piratas em que os motoristas não tinham nem sequer a habilitação adequada.

A Empresa Pública de Transporte da capital gaúcha diz que, diante do volume de veículos clandestinos circulando durante a greve, não há como fiscalizar tudo.

PERDAS NO COMÉRCIO

Com poucas alternativas para deslocamento, o comércio segue acumulando perdas devido à falta de clientes e funcionários.

As lojas estão bancando o transporte de seus trabalhadores em micro-ônibus executivos municipais, com tarifa mais cara do que o ônibus comum.

Há grande procura por essas lotações, que saem dos bairros já lotadas.

O gerente de um bazar no centro da capital gaúcha, Cristiano Félix, chega a pagar corridas de táxi para que seus funcionários consigam chegar ao trabalho.

Os trabalhadores da loja recebem auxílio para pegar as lotações, mas sofrem atrasos de cerca de uma hora e meia devido à dificuldade de achar um lugar vago nesses micro-ônibus.

"O movimento da loja reduziu bastante, até 50%", diz Félix.

SEM ACORDO

Nesta terça, em nova assembleia, os grevistas decidiram manter a paralisação por tempo indeterminado. Eles rejeitaram a proposta das empresas de reajuste de 7,5% –pedem que o índice seja de 14%.

O prefeito José Fortunati (PDT) foi a Brasília hoje negociar mais desonerações da tarifa do transporte. Ele diz que o núcleo do governo está "permanentemente mobilizado" devido à greve.


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